“Seres autónomos que saem à rua livres e bem sozinhos depois da meia-noite”. É desta forma que o escritor Gonçalo M. Tavares apresenta os textos que, desde o passado dia 7 de Outubro, começaram a construir o seu Dicionário de Artistas. Um Dicionário com entradas sobre artistas contemporâneos, que tem vindo a ser disponibilizado gratuitamente nas plataformas digitais do Centro Cultural de Belém, com a leitura dos textos a cargo de Ana Zanatti.
Francis Alys, Darren Almond, Carl Andre, Matthew Baney, Vanessa Beercroft e Joseph Beuys são os artistas que já entraram neste Dicionário, que pode ser lido e ouvido aqui. Fica a apresentação do Dicionário pelo próprio Gonçalo M. Tavares:
“A arte contemporânea como ponto de partida; a literatura pega nela e vai indo sem olhar um segundo para trás; calcula-se o vago ponto zero – o nome de um artista, uma obra – mas tudo o que vem a seguir existe nesse texto que começa a pensar pela sua própria cabeça.
Um texto tem cabeça e é com ela que o texto pensa.
Basta um indício visual para a linguagem se pôr a caminho e avançar por veredas estreitas e desvios a pique, subidas e descidas.
Interessa-me isto: a arte que se vê como modo de emitir por trás de si uma linguagem que é necessário extrair do solo da própria obra à força. O olhar de quem escreve faz isso: o que vê transforma-se em palavra, mas há neste começo claro, – as obras de arte contemporâneas – uma potência que conduz o texto por dentro. Sem este começo – a arte contemporânea – não haveria estes textos.
Este Dicionário de Artistas, este Museu, parte de um pormenor, detalhe ínfimo ou centro centralíssimo, da obra de um artista, nunca da biografia, e daí o texto vai para outro local qualquer.
Como um animal que tem fome parte do ninho para um ponto onde pressente o alimento, assim parte o texto à sua vida.
Mas nada de didático ou explicativo, os textos deste Dicionário são seres autónomos que saem à rua livres e bem sozinhos depois da meia-noite.”
Foto: Joana Caiano
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