No ano de 1912, um super-herói da arte conhecido como Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918), produziu em Paris 530 exemplares de um álbum de gravuras, composto a partir de vinte desenhos a tinta-da-china, que foram concebidos ao longo dos meses anteriores.
Por essa altura, o lançamento de “XX Déssins” (Ponto de Fuga, 2018) foi um dos primeiros grandes momentos de afirmação internacional do artista português, e o caso, como se poderá de novo experienciar mais de um século depois, não era para menos.
Com o selo da Ponto de Fuga, chegou às livrarias na recta final de 2018 uma edição fac-similada e numerada de “XX Déssins” (Ponto de Fuga, 2018), que reproduz fielmente o álbum original e resulta numa das mais esmeradas edições que chegaram às livrarias em anos recentes – e, arrisca-se dizer, desde sempre.
O livro tem todo o ar de um portefólio – há mesmo fitas pretas que servem de fechadura – que, ao ser aberto, apresenta umas abas num parente do antigo papel de embrulho, que guardam as gravuras, impressas a preto em cartolinas amarelas individuais. Quando estiver metido numa daquelas discussões sobre e-books e a morte dos livros a sério, pode sempre ir buscar isto à estante e a discussão, essa, morre aí.
No prefácio, assinado então por Jérôme Doucet, fala-se dos desenhos como “decorativos” e “surpreendentes”, realçando-se a “intensidade do preto e branco”. O resultado é uma edição empolgante, excepcional e belíssima, mesmo para quem não pesca grande coisa de arte: há cavaleiros vestidos a preceito para disputarem torneios, estudos de nus e de cabeças, mouras sedutoras e até a invenção de um D. Quixote para Cervantes. Uma obra-prima no que toca à edição literária – está de parabéns a editora.
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