Morrigan Crow tinha tudo para estar em altas, isto após ter conseguido virar costas a um mundo onde parecia ter nascida na hora e no lugar errado, sendo culpada por todos os infortúnios passados, presentes e futuros que tinham lugar e, sobretudo, por ter como certa uma existência que não iria passar das 11 primaveras.
Afinal, foi salva segundos antes do fim pelo patrono Jupiter North, que a levou para a cidade secreta de Nervermoore onde, para permanecer, teve de mostrar o seu valor, enquanto tratava de descobrir o talento especial de que toda a gente falava mas que ela não conseguia descobrir em nenhuma parte do seu ser.
Este primeiro ano como membro da Sociedade Wunderiana não está, porém, a correr como teria imaginado. Muito por culpa de um talento especial com o seu quê de maldição e imprevisibilidade, que nem ela própria consegue ainda dominar: quando as coisas correm bem, Morrigan é rapariga para se conseguir ligar à Wunder, uma fonte de energia mágica que alimenta o mundo.
Um talento que tem de ficar fechado a sete chaves, uma vez que a faz quase parente de Ezra Squall, “o homem mais cruel que alguma vez existiu” – o Voldemort lá do sítio -, que em tempos passados criou um exército de monstros para conquistar a cidade, numa batalha que provocou uma série de mortos e trouxe o caos e a desconfiança à sociedade. E que, nos dias que correm, tenta a todo o custo com que Morrigan se torne sua aprendiz, um pouco como o Darth Vader tentou fazer com o seu filho Luke Skywalker.
Entrando com o pé esquerdo, vê-se obrigada pela directora da escola a frequentar uma única disciplina – História dos Hediondos Actos Wunderianos -, recebendo palavras tão encorajadoras quanto estas: “Tu já és um monstro. O meu dever não é salvar-te de ti mesma. É mostrar-te que não tens salvação possível”.
Quando uma misteriosa onda de raptos tem lugar, Morrigan é novamente a suspeita número 1 e, caso não consiga resolver este caso bicudo, terá de fazer as malas e abandonar o único lugar que chegou a olhar como lar – e ter de deixar para trás coisas tão fixes como ter um quarto muito temperamental, que pode mudar de aspecto de uma hora para a outra consoante as energias. Não vai estar, porém, sozinha nesta demanda. Da Unidade 919, à qual pertence, há gente para todo o tipo de serviços e missões: Cadence Balckburn, hipnotizadora; Lambeth Amara, “oráculo a curto prazo”; Francis Fitzwilliam, gastrónomo; Mahir Ibrahim, linguista; Anah Kahlo, curadora; Thaddea Macleod, lutadora; e Hawthorne Swift, montador de dragões. E há também a Menina Cheery, a condutora do Wundermetro, com uma propensão especial para a decoração e a confecção de bolachas, que consegue equilibrar-se como poucos.
Em “Wundersmith: O Destino de Morrigan Crow” (Nuvem de Letras, 2019), segundo volume das aventuras da intrépida Morrigan, o leitor irá visitar o incrível Museu dos Momentos Roubados, conhecer uma rapariga amaldiçoada, fazer compras no mercado negro, percorrer as vias matreiras ou tentar não arranjar sarilhos com os Osseiros. Se são fãs de Harry Potter e procuram uma leitura num universo mais ou menos paralelo, Morrigan Crow é a vossa praia.
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