Se, no mundo dos super-heróis, há alguém que possa ser apontado como o mestre dos disfarces gramaticais, esse alguém é sem dúvida Wolverine. Com uma história de vida marcada pela tragédia, a urgência da vingança e um sentido de humor que deixa (literalmente) marca, a história deste mutante (nascido James Howlett, conhecido como Logan e, às vezes, como Arma X), peça fundamental de uma instável irmandade conhecida como X-Men, foi já contada de mil maneiras, entre comics e longas-metragens.
“Wolverine: Preto, Branco & Sangue” (G. Floy, 2021), que em termos cromáticos poderá ser traduzido como “preto, branco e vermelho” – muito, mesmo muito vermelho -, apresenta vários olhares de autores e ilustradores sobre este super-herói de garras afiadas. Alguém que, num certo dia, depois de levar muita porrada, achou que tinha chegado a hora de desfrutar de uma sentida invencibilidade: “Os meus monstros acabaram por perceber que nenhum homem era capaz de me ferir”.
Nesta dúzia de histórias onde os estilos e as técnicas de desenho são muitos e variados, fala-se do papel nefasto que a ciência pode ocupar; conhecemos o grande inquisidor da Hidra, de seu nome Gregor Hersh, e o jogo do gato do rato que vai jogando com Nick Fury; vemos a raiva assumir o controlo para os lados do Canadá, lugar onde há muitas pontas soltas mas margem larga para gestos nobres; parte-se em busca do Doutor Price, um investigador hispânico que alega conhecer uma forma de “eliminar o gene x com segurança” – numa história onde Dentes-de-Sabre está em grande ao tratar Wolverine por… Nanico; descobrimos que uma das raras coisas que põe um sorriso na cara de Wolverine é…carne grelhada – ou, no original, shish kebab; viajamos até Madripoor, onde Logan não é nem mutante, nem X-Men: é o caolho; vemos Logan no papel de pai adoptivo, numa história sentimental com um toque oriental; parte-se rumo a Marte, para regar “um jardim criado por deuses alienígenas, ainda repleto de brinquedos abandonados. E armas”; ou descobrimos como Logan afoga as suas mágoas amorosas.
Para o final fica reservada uma bem arrumada galeria de capas, a que se junta uma promessa de continuação: um segundo volume está a caminho. Com muito vermelho, pois claro.
1 Commentário
Fantástica coleção, artistas novos e outros mais experientes, “escrevem” as várias histórias de heróis de olhos raiados, de vermelho.
São simplesmente aspectos visuais da qualidade dos artistas de maior indústria de super-herois. Os personagens mais violentos e sanguinários a saírem das sombras, e a mostrarem porque todos eles tem ligação com as sombras e a luz – onde quer que sejam “chamados” – haverá sangue