“Quero dar a conhecer alguém que dedicou toda a vida à poesia, ao teatro, à cultura mais enraizada no espírito celta da sua terra irlandesa: lendas, histórias muito antigas, canções, danças e crenças.”
Animada pelo desejo de homenagear e divulgar a vida e a obra de uma personalidade literária que já foi tema de inúmeros textos académicos, Cristina Carvalho opta pela liberdade permitida pelo romance biográfico. O seu protagonista/biografado é William Butler Yeats (1865-1939) – distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 1923, pela beleza transcendente da sua obra, bem como pelo respectivo contributo cultural para a sua amada Irlanda –, e o livro intitula-se “W. B. Yeats: Onde Vão Morrer os Poetas” (Relógio D’Água, 2022).
Assumindo um fascínio por este homem, caracterizado como “uma personalidade invulgar, um ser contemplativo e de criações literárias muito belas, de estranha e intensa sensibilidade”, a autora procura reconstituir múltiplas facetas da vida interior que terá levado, colocando-o a falar-nos em discurso directo: “Escrevo porque existo e a paixão transformou-me numa criatura única, impossível, inimaginável. Sou de espírito leve e pesado, intenso e frágil, triste e alegre. Sou várias pessoas. Tal como os rostos da Lua, tal como as marés em Rosses Point.”.
Desta forma, conhecemos a sua encantada infância irlandesa, a família, o desagrado com a escola frequentada na região de Londres – cidade de sombras cinzentas que desprezava –, a afirmação no meio cultural, a evolução da sua escrita, as amizades, a duradoura paixão não correspondida pela actriz e activista Maud Gonne, o casamento, os filhos, a doença e, por fim, o tipo de morte que alcança até aqueles que se tornaram imortais. O misticismo de Yeats também está bastante presente, indissociável do amor pela natureza da Ilha Esmeralda e pelo folclore da sua civilização ancestral: “A Irlanda sempre esteve presente em mim. Fazia parte do meu corpo físico e espiritual. Era como uma célula, uma partícula de sangue. Era uma ponta da alma.”.
Cristina Carvalho visitou a Irlanda em Junho de 2022 e percorreu os locais cruciais na biografia de Yeats, combinando a evidente admiração pelo artista com uma extensa pesquisa, resumida num dos trechos em que se lhe dirige: “Visito os teus locais, leio milhares de páginas que vão contando tudo o que se sabe sobre a tua vida”. Entre recordações e divagações, o seu discurso entrelaça-se com o de Yeats, ambos atraindo o leitor para um mundo onde a magia e a poesia fazem parte do quotidiano.
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