Uma história de incompreensão, mas também de cumplicidade, é o que se pode esperar de “Voltar do Bosque” (Dom Quixote, 2024), da italiana Maddalena Vaglio Tanet, livro que coloca algumas questões ao leitor: até onde deve ir a nossa lealdade? Em que momento deve ser colocado um ponto final na dedicação a uma pessoa quando não conseguimos perceber os seus actos?
Numa pacata aldeia italiana, uma professora em choque com o suicídio de uma sua aluna pelo qual se sente culpada, entra num bosque para não mais ser vista. As buscas sucedem-se, tanto pelas autoridades como pela família (principalmente por um primo intempestivo), mas as mesmas são infrutíferas.
Quem acaba por encontrar a desaparecida é Martino, criança recém-chegada à aldeia e à escola local devido aos seus problemas de asma, que no meio das suas deambulações pelo bosque se depara com a professora num estado indescritível. Martino fica dividido entre revelar a sua descoberta ou aceder à súplica da professora para que não diga nada. Esta parece ser uma partida do destino, uma vez que, com a população local, os bombeiros e a polícia com cães-pisteiros a baterem ribeiros e florestas, é uma criança forasteira quem, sem querer, encontra a professora desaparecida.
“Voltar do Bosque” mergulha nas profundezas da perda e do luto, narrando a história de uma família que se reencontra após uma tragédia. A escrita de Tanet é delicada e envolvente, capturando a dor e a beleza das memórias e das relações familiares, explorando a complexidade destes laços e as diferentes formas de lidar com a dor. O próprio bosque, de uma perspectiva tanto física como metafórica, é um personagem por si só, representando o local onde se perdem – mas também onde se encontram – as emoções mais profundas. Uma boa leitura para quem quer encontrar uma reflexão sincera e emotiva sobre a vida, mas também sobre a morte e os laços que unem ambas, numa jornada um tanto ou quanto introspectiva.
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