E se, quando menos esperas, uma pedra de tamanho considerável cai do céu, aterrando precisamente no teu sítio preferido (onde não estavas por obra do acaso)? É este o ponto de partida para “Uma Pedra Cai do Céu” (Orfeu Negro, 2022), uma história em cinco actos assinada por Jon Klassen, o mestre dos mestres em mostrar aos mais novos o que é o sentido de humor disparatado – o melhor de todos.
O álbum é habitado por três personagens que, como vem sendo habitual nos livros de Klassen, trocam a boca – quase sempre ausente – por um olhar extra-expressivo, capaz de ficar durante horas a jogar ao jogo do sério.
“Gosto de ficar neste sítio. É o sítio onde prefiro ficar. Nunca mais quero ficar noutro sítio”. Quem o diz, como que brincando com um silogismo aristotélico, é uma tartaruga com um estiloso chapéu de coco a adornar-lhe a cabeça, junto a uma flor bastante vivaça. Instantes depois, um pedregulho – aparentemente a pedra do título – chega-se sabe-se lá de onde, aterrando precisamente no lugar de eleição da tartaruga.
Pedra que, aos poucos, vai ganhando o estatuto do monolito do 2001 de Kubrick, obrigando este trio a pensar no futuro, a experimentar a partilha, a viver uma improvável amizade e a dar largas à imaginação. Uma história onde a natureza é rainha e na qual temos extraterrestres saídos da Guerra dos Mundos, pores-do-sol incríveis, uma imensa tranquilidade mas também medo, mistério e silêncios cúmplices.
Para além da história – felizmente – nonsense, feita de um humor cinzento e uma subtil hilaridade, Klassen serve-nos um belíssimo livro ilustrado, com letras imensas, impressas a preto e numa fonte redonda simples, sobre um branco perfumado – ou, quando estramos em modo diálogo, um atmosférico cinzento – , que mostra que por vezes é mesmo importante estar no lugar certo, e à hora certa (literalmente). Pura Klassen.
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