Estudou Arquitectura, licenciou-se em Jornalismo – profissão que nunca chegou a exercer – e acabou por se tornar escritor, tendo em 2006 sido agraciado com o Nobel da Literatura. Falamos de Orhan Pamuk, um homem que fez da Turquia o seu mundo e que nele sempre permaneceu, apesar de não esconder algumas posições contrárias ao rumo político que o país tem tomado.
Escrito em 2016, “Uma Estranheza em Mim” (Editorial Presença, 2016) é um exemplo maior da escrita quase antropológica de Pamuk, dividida entre um olhar que traça uma fronteira visível entre o Oriente e o Ocidente, um gráfico que conta a história das classes sociais e um guia emocional de Istambul, que conduz o leitor ao âmago dos seus habitantes e lida com as suas crenças, tradições e valores.
O mais recente livro de Pamuk centra-se na vida de Mevlut que, depois de um olhar fulminante trocado num casamento e de três anos de cartas inflamadas de amor, foge com a sua amada, para logo descobrir que, afinal, tinha fugido com a irmã errada. Ao chegar a Istambul, Mevlut aceita aquele que parece ser o seu inevitável destino, seguindo as pisadas do pai: vender boza, oficialmente uma bebida não alcoólica mas que será o equivalente turco a uma green sands, esperando um dia enriquecer.
O romance acompanha Mevlut durante quatro décadas, mas oferece também uma galeria de personagens que fazem desta narrativa uma novela trágica: Ferhat, filho de uma família alevita que se torna no melhor amigo de Mevlut; Hasan, o tio de Mevlut, com um olhar mais progressista e desapegado que o pai deste; Korkut, o primo mais velho de Mevlut, indomável na escola e intempestivo no amor; Mustafa Efendi, o pai de Mevlut, alguém que parou no tempo e se perdeu após a vinda para Istambul; Rayiha, que foge de casa com Mevlut e se torna, por linhas travessas, no grande amor deste; ou Samiha, a jovem quebra-corações que despertou em Mevlut a primeira centelha de paixão.
Ainda que tenha uma dimensão política forte a atravessá-lo, “Uma Estranheza em Mim” é um romance sobre o amor, o trabalho e a família, uma (tele)novela turca que atravessa quatro décadas para nos revelar um retrato sobre a cultura de uma cidade e de um país numa convulsão constante.
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