É servido como uma sequela de “A Visita do Brutamontes” mas, caso seja lido de forma independente – o que aqui foi o caso – ou fazendo vista grossa ao passado, “Uma Casa Feita de Doces” (Quetzal, 2023) continua a ser um dos grandes livros com edição nacional este ano, cortesia de Jenniffer Egan, autora já galardoada com mimos literários como o Pulitzer ou o National Book Critics Circle Award.
“Bix interrogou-se se o último dos quatro filhos iria, com a cumplicidade da mulher, prolongar a infância até à idade adulta” – isto porque, aos 3 anos, ainda mamava. Bem-vindos ao passado de Bix Bouton e à sua meteórica ascensão, até se tornar no brilhante dono da milionária Mandala, uma empresa tecnológica que desenvolveu o “Controla o Teu Inconsciente”. Uma rede que permite, a quem dela faz parte, o acesso às memórias privadas e alheias, numa memória colectiva sem precedentes. Do outro lado da barricada está Chris Salazar, dono da Mondrian, que defende que o preço a pagar por um mundo assim, mesmo que possa conduzir à erradicação do crime – ao estilo do Relatório Minoritário de K. Dick -, é demasiado elevado.
Mas há também Ted Hollander e o seu caso de estudo, um no qual “ninguém se magoou”, narrado na primeira pessoa e que acabará por conduzir a outras estranhas personagens como Alfred, filho de Ted, que os outros vêem como “um pesadelo do caralho”; ou Sasha, uma ex-cleptomaníaca em redenção, que se tornou numa artista contemporânea cujas obras só podem ser contempladas a centenas de pés de altura.
Jenniffer Egan saca de todos os trunfos e cria um romance musical composto por várias narrativas dispersas, misturando géneros literários, opondo o novo ao velho mundo, tudo para levar as personagens – e, pelo caminho, o leitor – para lá do ponto de ruptura, até um lugar onde se possa descobrir a autenticidade. Muito provavelmente o melhor livro de Jenniffer Egan até à data – o que não é coisa pouca.
Sem Comentários