Este romance de Elin Hilderbrand trata de “Um Verão Especial” (Círculo de Leitores, 2020). Um verão marcado pela escalada da Guerra Fria, o último de uma década marcada pelos assassinados de John F. Kennedy e de seu irmão Robert, de Martin Luther King Jr. e de milhares de jovens na guerra do Vietname, tudo em nome de um mundo mais justo e democrático para a qual não se via um fim próximo. Um verão em que, mais de um ano passado sobre a revolução social que fora o Maio de 68, ainda sentia muito pouco a concretização das promessas de igualdade e liberdade para as mulheres e a comunidade negra. Um mundo que tinha visto os russos lançarem a cadela Laika no espaço e se enchiam de expectativas para a alunagem da Apolo 11, marcada para esse mesmo verão de 69.
Elin Hilderbrand abre a cápsula do tempo e leva o leitor numa viagem pelo verão que deu um pequeno passo ao Homem e um grande passo à Humanidade, convidando-nos a visitar as memórias e segredos de uma família que tem com certeza muito da família da própria autora, ou não fosse o verão de 69 o próprio verão do seu nascimento. Uma experiência que nos irá comover, enfurecer e fazer rir, ao som dos clássicos intemporais de Joni Mitchell e de Frank Sinatra, dos incontornáveis Rolling Stones e dos Beatles, e nos transportará para os anos dourados de Woodstock, enquanto vamos desvendando os segredos, os amores e os desamores de uma típica família de classe média americana: as alegrias e dissabores do primeiro amor e a montanha-russa da puberdade; as expectativas que se confrontam com a realidade da vida de casados; os preconceitos e a ânsia de liberdade que se digladiam com os costumes instruídos; a tradição num tempo de incerteza, em que a autora quebra os mitos e barreiras que já todos nós tivemos algum dia de quebrar. Afinal de contas, os nossos pais, tios e avós não são seres sobre-humanos perfeitos e imutáveis, antes gente de carne e osso com alegrias, tristezas, ódios de estimação, paixões e principalmente segredos, muitos segredos, que antecederam o verão mais especial (ou assim a autora quererá acreditar) da vida de uma família.
Uma viagem imersiva aos algo esquizofrénicos anos sessenta do século passado, que nos fará querer pôr uns óculos espelhados e bandanas no cabelo, com o traço peculiar e muito interessante de começar cada sub-capítulo com o titulo de uma música, que descreve as emoções da personagem central ao longo da sua jornada.
Para ler numa tarde quente de verão com uma bebida fresca, vista para o mar e um disco a tocar bem alto, num livro que é também uma homenagem a todas as mães e avós guerreiras cujas estórias nos moldaram e nos fizeram quem somos.
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