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Um Falcão no Punho – Diário I, Maria Gabriela Llansol, Deus Me Livro, Crítica, Assírio & Alvim
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“Um Falcão no Punho – Diário I” | Maria Gabriela Llansol

Por Julia Martins · Em 25/10/2022

“Um Falcão no Punho – Diário I” (Assírio & Alvim, 2021) foi publicado, pela primeira vez, em 1985 pelas edições Rolim, e constitui o primeiro volume de uma série em que se integram “Finita – Diário II” (1987) e “Inquérito às Quatro Confidências – Diário III” (1996).

“Regresso para Porto Infeliz da Bélgica. Infeliz? (…) Augusto, a meu lado, curte as fadigas de Portugal, e entrega-se à sua faceta mais fechada: não me ouve, não me houve como habitualmente. Mas desta maneira, ou doutra, sinto-me sempre unida a ele pelo sentido da nossa aliança.”

“Um Falcão no Punho” corresponde a passagens do diário dos anos (19)80 de Maria Gabriela Llansol, pouco antes do seu regresso do exílio na Bélgica, onde o seu marido se refugiava por causa da guerra colonial, em África. Durante a expatriação pensa, reflecte e escreve sobre a Europa Central e a Península Ibérica, e ainda sobre convulsões sociais e religiosas na Europa Central durante a Reforma protestante e a Guerra dos Camponeses. É durante estes dias que descobre a música de J. Sebastian Bach e imagina um encontro fictício entre Bach e Fernando Pessoa. “Bach. Pessoa: durante muito tempo, o texto esteve suspenso entre esta massa evocativa de duas palavras. Escrever de um músico, exige um trabalho de identificação na parte mais funda da sua harmonia; para quem não conheço música – e é o meu caso – «devia haver lá fora um sossego como se nada existisse», o que era o desejo de Pessoa“.

Para quem aprecia a arte diarística, fica o aviso de que este é um Diário diferente. Poético. Reflexivo. Especial. Encontramos pensamentos, emoções e sentimentos sobre o processo de escrita, a gestação dos seus livros, os temas, autores e lugares que inspiram a sua prosa e que se constituem como confissões que permitem ao leitor conhecer melhor a obra da escritora. Llansol rompe com as narrativas tradicionais, proporcionando ao leitor um questionamento sobre géneros literários, convidando-o a apreciar a elegância da escrita e a hibridez de géneros que coabitam neste diário. Afinal o “Diário é o pano com que se faz a limpeza dos anos; de mais real que os outros textos (…)”.

“Decido hoje dividir este Diário não por anos e dias, mas igualmente por números; não é a primeira vez que a minha própria vida me aparece estranha, ou pertencente ao mundo exterior: um diário pode ser mais objectivo que a vida pessoal.”

Nas páginas do Diário encontramos geografias distintas: cidades, existentes ou imaginárias – como Lisboaleipzig -, casas, jardins e árvores entre outros seres e objectos. A viagem entre várias casas permite recordar o mais íntimo da vida e da família, onde o sonho e a realidade, o passado e o presente se mesclam. “Sonho que estou na casa de meus pais, de meus avós, de meus bisavós, e que a avó Maria se torna minúscula e engelhada, como se tivesse dado toda a água, e morre”.

Um Falcão no Punho – Diário I, Maria Gabriela Llansol, Deus Me Livro, Crítica, Assírio & AlvimA afectividade entre Llansol e a natureza é de uma sensibilidade invulgar, a qual oferece ao leitor imagens esteticamente agradáveis e poéticas: “A seiva sobe e desce numa árvore, estende-se pelos ramos, e é regulada pelas estações; eu e a árvore dispomo-nos uma para a outra, num lugar por nomear. Este lugar não tem uma significação de dicionários, não transmigrou para nenhum livro”.

Perplexidade é palavra mais adequada para descrever o primeiro contacto com a obra de Maria Gabriela Llansol. Ao conhecer a escrita da autora, talvez a mais inovadora da ficção portuguesa contemporânea, a estranheza e a inquietação aguçam o desejo de entrar e permanecer no universo de Llansol: penetrando, paulatinamente, nos sentimentos, na vida, na invulgaridade, ou seja, na literatura.

“Um Falcão no Punho – Diário I” ganhou o prémio Dom Dinis da Fundação Casa de Mateus de 1985. A editora Assírio & Alvim tem vindo a publicar a obra de Gabriela Llansol, com organização de João Barrento e Maria Etelvina Santos, na colecção Arrábido. A presente edição conta ainda com um conjunto de imagens de Ilda David e um posfácio de António Guerreiro.

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Julia Martins

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