Quando pensamos em Walter Benjamin, para além da identidade musical com que Luís Nunes foi assinando os seus discos antes de mandar com o inglês às urtigas para se tornar um Benjamim, vem-nos à cabeça o filósofo alemão nascido em Berlim, no ano de 1882, e que morreu em 1940 quando fugia da guerra e da polícia nazi, num pequeno lugar chamado Port Bou, na fronteira entre a Espanha e a França. Alguém a quem associamos a coisas muito sérias e a uma escrita densa, um desses génios capaz de olhar a linguagem como Nero o fazia em Matrix antecipando o tempo.
Mas talvez poucos conheçam a faceta de Walter Benjamin no campo dos contos para adultos, e, muito menos, a sua escrita para crianças. No universo infantil fez muitos programas de rádio e, num deles, chegou mesmo a contar a história do terramoto de Lisboa em 1755. Ou, por exemplo, uma história intitulada “Um Dia de Loucos” (Bruáa, 2017), transmitida na Rádio de Frankfurt em 6 de Julho de 1932, um verdadeiro quebra-cabeças e um poço de adivinhas para os mais pequenos.
Com o selo da Bruáa e ilustrações de Marta Monteiro, “Um Dia de Loucos” chega às livrarias numa edição cuidada e de capa dura, preparando os mais novos para o salto de fé que irão dar, alguns anos mais tarde, quando mergulharem no magnífico e estimulante universo de Walter Benjamin.
“Na história que vais ler (…) muita coisa não bate certo”. O aviso fica desde logo feito, bem como a obrigatoriedade de ter à mão uma folha de papel e um lápis, para fazer nela um risco sempre que se apanhar alguém em falso. É que, nesta história, existem 15 erros para serem descobertos, a eles se juntando outras 15 perguntas que irão testar os conhecimentos e a memória dos leitores. E, se os erros e as armadilhas são muitas vezes sorrateiros, as perguntas são anunciadas com toda a pompa e circunstância por um “Gong!“.
Trata-se de um livro que se vai lendo e atribuindo uma pontuação, que entre riscos e respostas certas pode chegar à redonda marca de 45 pontos – mas, segundo o narrador, se chegarem aos 10 já não será nada mau. Há apenas que ter uma coisa em mente: “Nesta história, o mais importante é pensar“. Não faltam dicas pelo caminho, como dar mais atenção aos erros pois, as perguntas, são repetidas no final da história.
Uma história que nos é contada por Bruno, que não pregou olho a noite inteira por ter estado às voltas com uma adivinha: Qual é coisa, qual é ela, o camponês vê-o muitas vezes, o rei poucas, e Deus nunca? Bruno bem gostaria de contar com a ajuda do António para desvendar tamanho mistério, mas não o consegue descobrir em parte alguma. Apenas dá de caras com barbas mal-feitas, círculos gigantescos desenhados à volta da terra ou uma estranha colecção de curiosidades. O narrador não se compromete com nada, e apenas vai repetindo após cada uma das 15 perguntas: “Pois é, isso também eu gostava de saber“.
As ilustrações de Marta Monteiro mostram bem o desviante universo de Benjamin, que aqui serve aos mais pequenos, com um humor inteligente e perspicaz, lições de matemática, geografia, português e ortografia, criando uma espécie livro de actividades literário. Gong!
Sem Comentários