Não era preciso red bull , café ou sequer coca-cola para que um pequeno cavalo se levantasse cedo e, após comer ervas ainda molhadas e de sentir nas narinas o “ar leve e fresco da madrugada, ficava com energia capaz de galopar duma ponta à outra do prado, acordando e brincando com toda a gente“.
O seu mundo era, ainda assim, delimitado por uma vedação de madeira, que separava o seu prado do seguinte, até que um dia o conseguiu saltar pela primeira vez. Percorreu todos os prados até chegar a uma grande cidade de betão, altura em que descobriu que conseguia voar, tendo descansado numa nuvem que lhe despertou a curiosidade sobre os mistérios do mundo: a lua, o arco-íris, a Ursa Maior e a Menor. Ainda assim a saudade acabou por bater, tendo a imaginação dado lugar à recordação e transformado o cavalinho num poeta com a missão de fazer sonhar também os outros:
“Seguram, cheios de energia,
Qualquer estrela cadente.
Com maneiras graciosas,
Limpam o pó às nebulosas.
Em gestos muito bonitos,
Arrumam os meteoritos.”
As ilustrações de Madalena Matoso acompanham o território de sonho construído por Manuela Castro Neves, numa história onde, ao olhar o mundo exterior, o pequeno cavalo passa a admirar o seu próprio mundo, para o qual olhava sem o ver, vivendo-o de forma automática sem permitir a entrada do deslumbramento. Uma história para a primeira infância que deixa pistas para diversos tipos de exploração.
“Um Cavalinho entre Papoilas e Estrelas” (Caminho, 2017) é o quarto livro da autoria desta dupla, depois de “O Elefante Que Espantava Toda a Gente”, “Uma Cadela Amarela e Vários Amigos Dela” e “O Pato Amarelo e o Gato Riscado”, recomendados pela Plano Nacional de Leitura.
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