“Sabem, nunca escreveria um livro sobre unicórnios. Primeiro, porque não os achava particularmente engraçados e depois porque, bem, na verdade, os unicórnios não existem.” A verdade é que Joana Cabral acabou mesmo por escrevê-lo – em seu nome ou da ficção -, lançado com o título “Um bando de unicórnios” (Editorial Novembro, 2015) e acompanhado das ilustrações de Maria João Lopes.
A mãe que nos conta esta história tinha uma filha que, como muitas meninas, gostava de princesas, de bruxas mas também de unicórnios. Desenhava-os muitas vezes, com pêlos cor-de-rosa, grandes pestanas e caudas muito felpudas. Sorriam muito e, nos seus melhores dias, até falavam. Quando a mãe, já um pouco preocupada por esta grande admiração da filha por esta espécie de cavalos com um chifre à frente, lhe disse que os unicórnios eram seres mitológicos, a filha continuou a sonhar com eles e a desenhá-los na escola, recebendo rasgados elogios da professora.
A pequena continuava a vê-los a passar do lado de fora da janela, e até pediu para lhe comprarem uma enciclopédia que contava tudo sobre eles. Porém, quando os desenhos de unicórnios que enchiam os cadernos começaram a ser substituídos por letras e números, a mãe não deixou de sentir um certo alívio. Sentimento que, algum tempo depois, deu lugar a um outro, mais angustiante e inquietante. Tão inquietante que foi o rastilho para acreditar no impossível, como se com isso fosse possível guardar uma parte da vida que ficou para trás no tempo e que passou quase sem se dar por isso.
História sobre o crescimento e os sonhos que se atravessam e se eclipsam, “Um bando de unicórnios” aponta à preservação da criança que existe em cada leitor, que tende a desaparecer quando se é engolido pelo mundo dos crescidos, feito de letras, números e outras coisas onde não há lugar para o cor-de-rosa. Uma história ilustrada que merecia uma edição mais requintada, com direito a capa dura e a um outro jogo no que toca à composição e à utilização das fontes de letra.
1 Commentário
Excelente critica! Vou ja comprar este livro para a minha filha.