Sarah J. Maas é, no reino da fantasia, a gata que esconde mais vidas, que é o mesmo que dizer sagas. Depois de Corte de Rosas e Espinhos e Cidade da Lua Crescente, mergulhámos agora em “Trono de Vidro” (Marcador, 2024 – reimpressão), o livro inicial da primeira série já completada pela autora norte-americana, composta por oito volumes: os sete da série e “Assassin`s Blade”, espécie de prequela com cinco histórias curtas. Em Portugal, a Marcador prepara-se para lançar o quinto livro da série.
“Com um ano de trabalho escravo nas minas de sal de Endovier, Celaena Sardothien já se habituara a ser escoltada para todo o lado, algemada e ao toque da ponta de uma espada”. Celaena Sardothien, “a assassina mais notável de Adarlan”, é a heroína de Trono de Vidro, que depois de um ano em que sobreviveu por várias vezes à morte se vê colocada diante de Dorian Havilliard, o príncipe herdeiro de Adarlan, que lhe oferece a oportunidade de conquistar a sua liberdade: representar o príncipe como a sua campeã, numa competição onde o vencedor terá o estatuto de novo assassino da coroa. Uma competição onde irão estar duas dezenas dos mais temíveis assassinos e malfeitores, que irá decorrer no Castelo de Vidro e terminará num duelo entre os dois finalistas.
Celaena foi treinada desde os oito anos para ser uma assassina, “desde o dia em que o Rei dos Assassinos a encontrara quase sem vida nas margens de um rio gelado e a acolhera”. Irá agora lutar para se tornar no assassino de um rei que detesta, num lugar onde toda a magia desapareceu e no qual as fadas se tornaram criaturas perseguidas, consideradas “ilegais” pelo rei, que “fez desaparecer todos os indícios da sua existência tão eficazmente que até aqueles que tinham magia no seu sangue quase acreditavam que ela nunca tinha realmente existido, sendo a própria Celaena um deles”.
Durante a competição, um dos concorrentes é encontrado morto, e de repente parecemos estar diante de um assassino em série, numa corte onde o tédio parece ser o sentimento dominante – não é certamente a praia de Celaena. Neste primeiro volume, o leitor ficará a conhecer o castelo de vidro de Rifthold, “colossal, uma cidade vertical cristalina cintilante de torres e de pontes, aposentos e torreões, salões sob cúpulas e longos corredores sem fim à vista. Tinha sido construído sobre o castelo original de pedra, e custara toda a riqueza de um reino para ser erguido”.
Não poderia faltar, como é hábito nos livros de Maas, uma pitada de romance, com Celaena plantada entre dois focos – e escadarias sociais – de atenção. Mas é com a enigmática e subversiva princesa Nehemia que o mundo das personagens secundárias ganha terreno, num livro que abre um portal para o que parece ser a série de Maas mais próxima da fantasia old school – no melhor dos sentidos. Vidro inquebrável.
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