“São as trocas e baldrocas
Que sabemos inventar
São só trocas e baldrocas
Não te deixes enganar”
Não se apoquentem os pequenos e grandes leitores. Apesar de estarmos em vésperas da final do Festival da Canção, não nos vamos pôr aqui com exercícios de nostalgia cantando Cândida Branca Flor a plenos pulmões. Serve antes este pedaço de uma letra de Carlos Paião como apresentação a “Trocas e Baldrocas” (Asa, 2017), o mais recente livro de António Mota, que conta com ilustrações de Júlio Vanzeler.
Como manda a tradição, também esta história começa por “Era uma vez um gato vadio que comia o que encontrava. Umas vezes andava de barriga cheia, outras com ela a chocalhar“. O que mexia, também, com o seu estado de espírito, que era habitualmente feito de picos entre a felicidade máxima e o absoluto desespero. Um dia, enquanto tinha uma conversa filosófica com uma vaca onde dizia pensar “nas maldades do mundo“, uma raposa surge matreira, respondendo que os seus pensamentos, naquele momento, estavam todos dirigidos para uma “galinha gorda“.
Depois de fazerem uma aposta que acaba por correr mal para o lado do gato, este arranca o rabo à raposa, que o exige de volta – mas sem grande convicção ou ferocidade – de modo a manter a sua elegância. O gato, porém, só aceita devolver-lhe a cauda se a raposa lhe trouxer leite. A vaca até nem se importa de lhe dar leite, mas só se a raposa lhe trouxer erva fresca. Bem, já devem ter imaginado o que aí vem: um carrossel de trocas e baldrocas até que a elegância – e o rabo da raposa – seja reposta. Uma fábula sobre as apostas inconvenientes, que acaba por servir também de lembrança aos tempos ancestrais das trocas directas.
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