Eucanaã Ferraz, a quem cabe a apresentação de “Todo Amor” (Companhia das Letras, 2019), apresenta desta forma sucinta e reveladora o legado trágico-romântico de Vinicius Moraes: “A obra de Vinicius é um longo aprendizado do amor”.
Aliando a poesia de livros à música popular, a opção desta colectânea recaiu em desprezar “a cronologia em favor de uma amostragem que faz dialogar textos que se mantiveram distantes, no tempo e nas páginas, mas agora capazes de revelar, pela vizinhança, surpreendentes paridades ou contrastes vigorosos”.
Moram aqui poemas, crónicas, letras de canções, cartas e textos para teatro, onde o amor navega entre a solução e o problema, algo de esplêndido e grandioso, mas também privativo de algo precioso. Uma dualidade expressa, logo de entrada, por um poema que alcançou a eternidade numa canção:
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida
A edição de capa dura é belíssima, com elaborados arranjos e ilustrações florais, que na companhia de fotografias a preto e branco dão um certo ar vintage a esta colectânea sobre o (des)amor. Há ainda uma cronologia final, acompanhada de fotos e capas de livros e discos, que resume de forma sumarenta uma vida cheia.
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