Se tivéssemos de eleger um livro para se tornar na Bíblia da Banda Desenhada, capaz de converter os mais descrentes ao fascinante universo de tiras, vinhetas, quadradinhos e balões de texto, “Toda a Mafalda” (Iguana, 2024) seria muito provavelmente esse livro. Afinal, como se lê no curto mas sucinto prefácio de Umberto Eco na edição de 1968, “a Mafalda não é apenas uma nova personagem: é talvez a principal personagem dos anos 1970”. Alguém cujo eterno questionamento, desconfiança, insatisfação e inconformismo perante a acção humana poderão servir de alimento para estes tempos tão conturbados, suscitando o desenvolvimento do tão necessário pensamento crítico. Como o disse José Saramago a certa altura, a leitura de Mafalda “deveria ser obrigatória nas escolas, mas não nas primárias, e sim nas universidades”.

Em 2024, no âmbito do 60º aniversário do nascimento de Mafalda – a Verbo tinha feito uma edição semelhante no 50º aniversário -, a Iguana fez chegar às livrarias uma nova edição de “Toda a Mafalda”, que apresenta todos os desenhos e tiras de Quino, um prefácio de Umberto Eco, um apontamento de Gabriel García Márquez, uma extensa e sumarenta cronologia ou uma deliciosa contextualização de cada uma das personagens, bem como comentários de personalidades famosas portuguesas e internacionais sobre esta criança fascinante, que começou a ser publicada em Portugal no ano de 1970 pela Dom Quixote.

Em 1973, Quino decidiu dedicar-se a outros projectos e não mais desenhar tiras novas da Mafalda que, ainda assim, continuaria a aparecer de forma esporádica, fosse como o rosto da Unicef em 1977, de uma campanha lançada pelos dentistas argentinos sobre higiene oral em 1983 ou mesmo com a publicação, a pedido, de uma nova tira em 1987.
Esta edição junta, para além de todas as tiras de Mafalda, um bem desenhado lado enciclopédico, que liga as tiras ao contexto historico da época, referindo também todas as mudanças na publicação, as alterações na periodicidade ou o surgimento de novas personagens – e as suas fontes de inspiração – e os novos temas que foram sendo introduzidos. Se andam à procura de uma edição definitiva de Mafalda para levarem para casa, “Toda a Mafalda” é uma compra obrigatória.
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