É, de todas as séries publicadas em Portugal com o selo da G. Floy, aquela que tem demorado mais tempo a fermentar, longe da trepidação gerada por outras parceiras de editora. A trama parece ter tudo para dar certo: “A cada noventa anos, doze deuses aceitam reencarnar em forma humana. São carismáticos. São amados. São odiados. E morrem passados dois anos. E está tudo a acontecer agora. A acontecer de novo“.
Se apenas nos focássemos no campo visual, provavelmente The Wicked + The Divine levaria para casa um dos prémios mais desejados, ficando com o primeiro prémio para melhor guarda-roupa e cenários. É no campo da narrativa que a coisa por vezes abana um pouco, apresentando um cruzamento de histórias e universos que torna algo hercúlea a missão de seguir a história. É que, aqui, tanto há deuses que são estrelas pop como um Panteão que parece estar a preparar-se para uma guerra total, o que torna quase necessário ter por perto as enciclopédias dedicadas a deuses romanos, gregos e todos os restantes.
Neste quarto volume, intitulado “Suicídio Comercial” (G. Floy, 2019), começa por correr um vídeo de homenagem a Innana, que desperta em Baal uma sede de vingança. Mas é na revisitação do passado de Tara, e naquilo que é quase uma espécie de diário, que encontramos a lição que esta aprendeu desde os onze anos, e que tem servido para alimentar os seus dias desde então: “Se a vida me ensinou alguma coisa, é que estou aqui para o prazer das pessoas“. Ela que estudou moda sempre com grandes notas, afastando-se de qualquer sombra de conformismo.
Na linha da frente está também Ananke, que se esconde por detrás da música, de uma máscara bem desenhada e de roupas vistosas, vivendo uma incompreensão que parece chegar de todos os lados. Alguém que, a seu lado, tem um homem sem rosto e algo depravado, seu servo para todo o serviço.
Estão também presentes as formas modernas de comunicação e de julgamento, com comentários de amor e (sobretudo) ódio nas redes sociais e a publicação de vídeos que levam o espírito voyeur a um outro nível. Que os deuses nos protejam – e que o quarto volume seja o tão desejado tira-teimas.
Sem Comentários