Escrita e desenhada pelo japonês Taiyo Matsumoto (n. 1967), a série Sunny começou por ser publicada na Shogakukan`s Monthly Ikki, a que se seguiu, após o seu cancelamento, a transferência para a Monthly Big Comic Spirits, onde ganhou o merecido destaque. Os seus 37 capítulos foram mais tarde publicados em seis volumes pela editora Shogakukan, entre os anos de 2011 e 2015 – e a série acabou por levar para casa o Prémio Shogakukan para Melhor Manga em 2016 e, no mesmo ano, o Prémio do Media Rats Festival. Em Portugal, a série foi editada com o selo da Devir, que optou por publicar dois volumes por livro, dando-lhe um formato entre o mangá e a novela gráfica, o que aumenta em muito o prazer da leitura. Um formato que, diga-se, poderia ser a bitola para as edições mangá da editora, como a celebrada e recente edição de Dragonball ou do imperdível One Piece.
“Sunny 3” (Devir, 2024) é uma despedida em grande – e sentimental – da casa de acolhimento Hoshinoko, a residência de um grupo de crianças singulares que partilham o facto de terem sido abandonadas ou serem órfãs, lidando com o medo, a insegurança, a ansiedades e a esperança.
Depois de um olhar sobre o campeonato de baseball entre instituições, uma tradição anual que Hoshinoko nunca venceu, é do travesso Haruo que nos chega um olhar algo desencantado sobre a cidade: “O ruído que não pára! O cheiro da comida misturado com o fumo dos carros, é demais!”. Tsuda, que com Haruo partiu para um reconhecimento urbano não autorizado, confessa ter-se decidido por uma morte metafórica dos pais – “As coisas doem mais quando pensamos que temos pais”. Afinal, como diz um regressado Makio, “a vida daquelas crianças é um filme bastante pesado”.
Neste volume derradeiro, acompanhamos o gosto de Sei em estudar os horários dos comboios – “Parece que estou a viajar a sério” -, a aversão de Junsuke a máscaras (e aos médicos), as dúvidas de Megumu sobre uma possível adopção – “Eu sinto que as almas dos meus pais continuam em algum lugar desta cidade” -, as constantes desilusões de Kenji com o seu pai ou as memórias de Asako, partilhadas numa ida a um parque de diversões, de quando “a mãe ainda era bonzinha. O pai ainda não era alcoólico. O Kenji ainda era pequeno. O Parque não muda, mas as pessoas não páram de mudar”.
O espírito de mudança é, aliás, o sentimento dominante neste livro, que entre o passado e o presente nos mostra, através de um grupo peculiar de crianças, o poder da superação, e o modo como a imaginação é um dos grandes aliados da existência. Quem nunca, a dado momento da sua existência, não terá conduzido esta Sunny, uma velha carripana abandonada que servia de portal para sonhos melhores?
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