Sejam bem-vindos à casa de acolhimento Hoshinoko, onde um grupo de crianças singulares, órfãs ou abandonadas a certo momento das suas vidas, gerem como podem as suas incertezas, medos, inseguranças, ansiedades e breves centelhas de esperança, imaginando que a estadia é nada mais do que temporária. “Sunny 2” (Devir, 2024) reúne os volumes 3 e 4 da série assinada por Taiyo Matsumoto, publicada originalmente entre 2011 e 2015.
Na primeira parte deste segundo volume, assistimos a uma visita-surpresa de Tanishi, que nos seus tempos no Hoshinoko era um miúdo terrível – fazer chichi do telhado para quem passava era uma das brincadeiras de eleição. Uma visita de reconhecimento ao director, não se descartando aqui a malfeitoria como um dos passos pelo qual por vezes passa a redenção. O Inverno já se instalou, mas nem todos estão com o mesmo entusiasmo no que toca à limpeza da neve – o quentinho do gabinete do director é bem mais tentador.
Há quem mostre apetência para o cantorio, sobretudo quando se tratam de cantigas picantes; há quem sonhe com a adopção, pedinchando sem vergonha a quem passe; há quem forje recordações para criar empatia, mesmo que interiormente se desenrole uma tempestade; há quem tome conta de um irmão, sentindo o movimento como uma catarse – “Quando subo a escada rolante sinto a tristeza ir-se embora”; ou há quem suspenda a matrícula na universidade, a braços com uma crise pessoal. Afinal, como alguém diz a certa altura, “acho que todos vivem a vida abdicando de alguma coisa”.
Na segunda parte o andamento é mais leve, tendo em conta Haruo e a sua eterna balda à escola: “Sinto uma nuvem negra encher o meu peito quando venho para a escola”. Há regressos breves de pais, que restituem uma ténue e brevíssima esperança; há quem observe nuvens, aprendendo a conduzir por observação; e há uma nota sobre o esquecimento, sendo raros aqueles que visitam Hoshinoko ou escrevem depois do milagre acontecer.
No início de cada capítulo – alguns deles começam com páginas a cores – continuam a lançar-se perguntas, entre a espera de uma adivinha, o ar travesso de um enigma ou um diálogo existencialista. Sunny, série feita de peças e engrenagens – o título refere-se a uma Datsun Sunny 100, velha carripana abandonada que serve como um portal de sonhos –, tem já o terceiro volume disponível nas livrarias, com o selo da Devir.
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