“O termo “stalker” existe na língua desde o princípio do século XVIII, inicialmente com o significado de vagabundo ou caçador furtivo. Em 1921, o psiquiatra francês Clérambault publicou um estudo sobre um paciente que tinha uma relação amorosa imaginária. Este caso é considerado por muitos especialistas a primeira análise moderna de um stalker. Actualmente, o conceito de stalker é aplicado a pessoas que sofrem de síndrome de perseguição, uma obsessão doentia que as leva a procurar vigiar constantemente outra pessoa. Quase dez por cento da população é objecto de alguma forma deste assédio persistente, pelo menos uma vez na vida.”
“Stalker” (Porto Editora, 2016). É este o título da nova aventura escrita a quatro mãos por Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Andhoril, conhecidos no universo literário por Lars Kepler. Depois de “O Hipnotista”, “O Executor”, “A Vidente” e “O Homem de Areia”, a nova aventura Kepleriana está centrada na caça a um assassino em série que, antes de matar de forma brutal as suas vítimas, as filma, enviando à polícia os links para os vídeos.
Quando Maria Carlsson aparece morta, de uma hemorragia resultante de múltiplas lesões perfurantes causadas por golpes desferidos com extrema violência no pescoço e no rosto, a polícia desconfia que o marido – que a encontrou após o regresso a casa -, num estado de choque absoluto, detém informações que podem ajudar a lançar alguma luz sobre o caso. É então que o Departamento Criminal pede a ajuda do hipnotista Erik Maria Bark que, quando percebe que a vítima foi encontrada sentada com a mão enrolada no quimono e o rosto desfeito, decide ocultar a informação à polícia, pois compreende que poderá ter sido responsável pela prisão de um inocente há meia dúzia de anos atrás, que então forneceu um álibi que Bark ignorar, convencido da sua culpa. Bark percebe também, uma vez mais ocultando a informação, que todas as vítimas parecem estar de certa forma ligadas a si.
Para além do regresso de Bark, “Stalker” promove o retorno de um dos mais fantásticos policiais da literatura moderna: Joona Linna, que havia simulado a sua própria morte, engolido pelas águas, de modo a poder viver na clandestinidade com a mulher e a filha. Joona que tem, da justiça, uma visão muito particular: “Às vezes penso que a ideia de justiça pertence apenas à infância.“
“Stalker” será, muito provavelmente, o melhor livro da série, com uma trama burilada na perfeição, personagens bens construídas e alguns regressos épicos, numa história que mostra como a fronteira entre a verdade e mentira, entre o heroísmo e a vilanagem, se pode esfumar em míseros instantes. Está em muito boa forma a dupla Lars Kepler.
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