Reunindo os tomos 13, 14, 15 e 16 da série original, criada pelos argentinos Carlos Trillo e Domingo Mandrafina, “Spaghetti Bros: Livro Quatro” (Arte de Autor, 2023) encerra de forma triunfal este épico cruel e trágico sobre as fundações da América moderna, que vai vendendo como pipocas o sonho americano. E tudo através dos irmãos Centobucchi, emigrantes italianos com vidas bem díspares entre a Máfia, a Igreja e a Polícia, o que faz desta uma das mais disfuncionais famílias que nos foram servidas em tiras de banda desenhada, com desenhos a preto e branco de Mandrafina que captam tanto as emoções dos personagens – com grandes planos recorrentes – como a arquitectura dos espaços.
Através do pequeno mas muito observador James, chega-nos um retrato sobre a mentira contagiosa deste quinteto, incapaz de se apartar da ideia de família mesmo quando a vontade é a de ir cada um à sua vida: a Tia Caterina, “que quando era uma estrela de cinema inventou que tiha sido raptada pelos ciganos em pequena e que por isso não tinha família”; o Tio Amerigo, que “também mente mas nem tanto” e que “não se importa que saibam que é um gangaster assassino”; o Tio Tony, que “antes não mentia, mas agora mente mais do que eu”; o Tio Frank, que “quase nunca mente. Mas também não diz a verdade…”. Ou Carmela, a mãe de James, uma respeitável mãe de família que, à noite, se transforma numa assassina contratada.
Decidido a contar em segredo a história monstruosa da sua família, James mostra os seus cadernos a Barton, um argumentista quase caído em desgraça, que vê aqui a oportunidade de uma vida, fazendo de James o escritor fantasma que lhe permitirá realizar um clássico americano. Com isso, irá revelar segredos familiares mantidos debaixo do tapete, despertando todos os recalcamentos e o espírito vingativo mantidos até agora como marinada.
O final, a fazer lembrar de alguma forma o da série televisiva Os Sopranos – ainda que esta não tenha revelado assim tanto -, é um efusivo manguito ao patriarcado, colocando um ponto final nesta série que é tudo menos dada a ser politicamente correcta. Os leitores agradecem.
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