Depois de “Apesar de Tudo” (ler crítica), livro que ao estilo de Memento subvertia a linha temporal para contar uma história de amor platónico com quatro décadas de marinanço, a Arte de Autor volta a publicar uma aventura a solo de Jordi Lafebre, agora tocada pelo espírito da Nikita de Luke Besson.
“Sou o Seu Silêncio” (Arte de Autor, 2023), policial que tem lugar em Barcelona, apresenta-nos a Eva, uma psiquiatra sem licença que bebe em abundância e é adepta das drogas recreativas, de momento presa entre as consultas obrigatórias com um psicólogo e um trio de mulheres que são a sua maior companhia, apesar de já terem partido deste mundo há um bom tempo.
Depois de os seus clientes terem apresentado uma queixa pelo “comportamento um pouco… «errático» nos últimos tempos”, Eva é obrigada a frequentar consultas com o doutor Llull, encarregue de avaliar a sua saúde mental. Uma saúde que parece estar presa por arames, uma vez que continua a falar assiduamente com três figuras femininas que já cá não estão: “uma idosa, uma cigana e uma miliciana”. No consultório, Eva conta a Lluul como se tornou a principal suspeita de um assassinato, jurando ter descoberto quem despachou a saúde a um dos Monturós, família que fez fortuna graças a Manuel Monturós, “um patriarca ambicioso e anafado” que, pela sua ligação a Franco e ao fascismo, transformou as vinhas e o seu espumante doce num império.
A acção – e o flashback no consultório – começa quando Eva é convidada pela amiga Panélope para ir ouvir, como advogada desta, a leitura em vida do testamento do seu avô, que irá entregar as chaves do império Monturós. Poucas horas após a sua chegada, Eva percebe que se meteu num cenário de telenovela mexicana. “Aquela casa era uma colmeia fervilhante… e todas aquelas abelhas histéricas gravitavam em torno de uma única pessoa: Francesc Monturós”.
Jordi Lafebre serve-nos um policial muito bem desenhado, protagonizado por uma investigadora acidental com muito jeito para a coisa, que trata de nomear os membros da família à moda grega, elaborando uma lista dos itens necessários para apanhar um assassino e procurando provar a Alemeny, uma inspectora-adjunta muito parecida com Angela Merkel, que não é ela a assassina. Para ler de copo de espumante na mão.
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