A invocação do título do livro “Socorro, sou uma adolescente” (Oficina do Livro, 2017) indicia o lugar-comum da visão da adolescência – um território conturbado onde não se quer estar, marcado por tensões, ambiguidades e conflitos internos a resolver.
Catarina e os seus amigos são os jovens protagonistas do livro que nos apresenta, de forma divertida, o roteiro das primeiras coisas e os seus antagonismos: o primeiro cigarro, a primeira festa, o primeiro beijo, a primeira morte. A par das primeiras experiências, explora-se a dinâmica das relações digitalizadas, onde impera as necessidades dos SMS e a desesperança quando não há saldo no telemóvel. Há ainda uma maximização das mudanças femininas do corpo, a menstruação e o crescimento do peito são metas ambicionadas.
A adolescência é marcada por mudanças biológicas, mas não só, e a sua vivência coloca qualquer jovem a pensar sobre as transformações vividas, o sentido das mesmas e como ir gerindo as novidades com amigos que estão em situação idêntica e com adultos/pais que já lá não estão – mas com quem é preciso negociar as entradas na vida adulta.
Mais que um campo de mudanças físicas, a adolescência é um jogo simbólico entre a moralidade dos adultos e a espontaneidade dos jovens, por isso talvez algumas personagens no livro surjam com alguma parcimónia, servindo de mote pedagógico para os considerados comportamentos mais dissidentes, onde o abuso álcool parece estar a um passo de uma gravidez não desejada.
Num registo ligeiro e diarístico, com capítulos curtos, a vida de Catarina é-nos contada na primeira pessoa, desde os seus 8 anos, quando encontra o amor pela primeira vez no professor de educação física, até ao último dia de aulas do 12º ano. Apesar de ser uma narrativa leve, qualquer jovem se identificará com as experiências relatadas, e qualquer adulto reviverá momentos da sua adolescência atrás de um qualquer pavilhão da escola secundária.
Ana Luísa Pais (1980) é a autora de “Socorro, sou uma adolescente”, o seu primeiro livro, vencedor da 11.ª Edição do Prémio Literário Maria Rosa Colaço 2016, que distingue obras de literatura infantil e juvenil.
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