“Este livro é uma carta de amor a Bowie, uma celebração das suas vidas e música.” Quem o diz é Rob Sheffield, editor da prestigiada Rolling Stone – e autor de livros como “Love is a mix tape”, “Talking to girls about Duran Duran” ou “Turn Around Bright Eyes” -, tratando desde logo de referir que “Sobre Bowie” (Vogais, 2016) foi escrito do ponto de vista de um fã da Pop e de Bowie, ao invés de ser uma biografia na linha tradicional.
De facto, “Sobre Bowie” lê-se prazenteiramente como uma edição especial da Rolling Stone, apresentando Bowie como uma figura única da história da música, que soube gamar como poucos para criar um som e deixar um legado que dificilmente será igualado nas décadas mais próximas. Alguém que, antes de partir, nos deixou mais um enigma intitulado “The Next Day”, que deixa no ar a pergunta em que todos pensamos quando nos vem à mente a silenciosa ceifeira: “Onde estamos agora?”
O livro segue uma ordem cronológica, viajando até ao tempo em que, com 16 anos, Bowie tocava saxofone numa banda chamada Konrads, sempre nas lonas e com uma paixão louca por roupas. Ele que tocou em bandas com nomes como Lower Third, King Bees ou Manish Boys e que sacou o nome de “um texano famoso com uma faca emblemática“, visto num qualquer filme obscuro da altura. Bowie que, já então, tudo fazia para ter um pouco de atenção, como pertencer à Liga Para a Prevenção da Crueldade Contra os Homens de Cabelo Comprido.
O livro é, também, um pequeno gabinete de curiosidades, que apresenta personagens, lugares e estados de espírito atravessados por Bowie. Ficamos a saber, por exemplo, que John Paul Jones, baterista dos Led Zeppelin, foi o mentor de Bowie no que à cannabis diz respeito. Que a rivalidade com Marc Bolan foi uma constante. Ou que Major Tom, personagem maior de Bowie, foi inspirado no épico 2001: Odisseia no Espaço do mestre Kubrick.
Rob Sheffield leva-nos também numa viagem individual a cada um dos discos de Bowie, onde sobressai a sua veia musical numa leitura que para melhor fruição deverá ser acompanhada do Spotify ou da aparelhagem caseira.
O grande trunfo deste “Sobre Bowie” acaba por ser não apenas a viagem crítica à obra de Bowie mas, sobretudo, o plano geral que mostra a importância que teve para a música e na própria transformação da sociedade e das mentalidades.
De destacar o período de Bowie na América – “Eu precisava da América como uma stripper do varão“, disse a certa altura -, onde viveu os maiores excessos e lançou cinco dos seus grandes discos, tudo por causa de uma secção rítmica de eleição, ou o período de ressaca berlinense, em que compôs uma fantástica trilogia tendo então como espécie de baby sitter e padrinho de recuperação nada mais nada menos do que… Iggy Pop. Um retrato pessoal mas muito abrangente da maior figura musical de todos os tempos.
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