No superpovoado universo da fantasia, A.F. Steadman conseguiu uma pequena proeza, que teve o seu início com “Skandar e o Roubo do Unicórnio” (ler crítica). Uma história com embalo épico, habitada por rasgos de magia, heróis adolescentes e batalhas estratégicas, na qual se forjaram amizades, se exigiram sacrifícios e as prioridades da vida foram baralhadas. E que, logo a começar, nos obrigou a olhar para os unicórnios longe da fofura habitual: “Guinchos agudos, rugidos assassinos, o ranger de dentes sangrentos. (…) Hálito rançoso, carne putrefacta, o cheiro nauseabundo da morte imortal. (…) Os unicórnios não pertencem aos contos de fadas, pertencem aos pesadelos”.
Chegados a “Skandar e os Desafios do Caos” (Nuvem de Tinta, 2024), o cenário é de desolação total. Com a incubadora vazia, “nenhum unicórnio incubará aqui durante treze anos. Toda uma geração perdida de cavaleiros“. Um segredo que permanece como tal, de forma a não abalar o já frágil equilíbrio entre os cavaleiros, que continuam a olhar para Skandar Smith como uma ameaça, ele que é o detentor do espírito, o quinto e ilegal elemento ligado à morte.
Sankar e amigos enfrentam agora o ano dos Novatos, considerado o mais brutal de todos. Pela primeira vez, irão ser testados durante cada estação elemental, tendo de completar um desafio em cada umas das zonas. Desafios que obrigarão os cavaleiros a ir ao limite e a profundar a sua relação com os seus unicórnios, de quem passarão a depender ainda mais.
Quanto a Kenna Smith, irmã de Skandar, cumpriu finalmente o seu sonho de ter um unicórnio, ainda que o tenha feito por caminhos sinuosos. Skandar não desistiu ainda de encontrar o unicórnio que lhe estava destinado, mas continua a ser incerto de que forma as quebras de vínculos e o forjamento de novos poderão alterar o curso da vida.
O lugar central desta história dá pelo nome de Montanha do Desassossego, um lugaar capaz de, segundo rezam as lendas, pregar partidas “a uma criança aventureira – ou, na verdade, a um cavaleiro de unicórnio novato”, e onde qualquer mapa parece não funcionar.
Um livro onde cabem bailes requintados, desafios de monta, uma elaborada caça aos ovos, um confronto entre amizade e competição e que, a dado momento, nos mostra que mora aqui bem mais que uma trilogia. E, claro, onde não faltam as clássicas sandes de emergência, servidas em pão branco ou integral fresco da zona do ar, com (ou sem) sementes de girassol.
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