Relembremos a matéria dada. A.F. Steadman, autora da série Skandar, obrigou-nos a olhar para os unicórnios de outra forma depois de termos lido “Skandar e o Roubo do Unicórnio” (ler crítica): “Guinchos agudos, rugidos assassinos, o ranger de dentes sangrentos. (…) Hálito rançoso, carne putrefacta, o cheiro nauseabundo da morte imortal. (…) Os unicórnios não pertencem aos contos de fadas, pertencem aos pesadelos”. “Skandar e o Cavaleiro Fantasma” (Nuvem de Tinta, 2023), o segundo livro de uma saga que deverá ter pelo menos 5, mantém o bom nível do volume de estreia, mostrando que há matéria suficiente para esticar a corda por mais uns volumes sem perder a qualidade.
Kenna Smith, irmã de Skandar, não vive dias felizes. Depois de a porta da incubadora não lhe ter sido sido aberta, o que a impediu de se tornar cavaleira, passou um ano a desempenhar um deslocado papel, liderando no Continente um grupo anti-unicórnios. A esperança surge quando Dorian Manning, Presidente da Incubadora e líder do Círculo Prateado, lhe bate à porta com uma estranha proposta: “Não estás interessada em descobrir o unicórnio que te está destinado, Kenna Smith?”.
Skandar Smith pode bem ter ajudado a salvar o mundo, mas nem isso lhe vale de muito no segundo ano no Ninho da Águia. Detentor do espírito, o quinto e ilegal elemento ligado à morte, vê-se colocado de parte por (quase) todos, podendo até nem conseguir uma sela para o seu unicórnio Patife, sem a qual será impossível continuar o seu percurso como cavaleiro.
Quando os aparentemente imortais unicórnios selvagens – unicórnios não vinculados – começam a ser mortos, uma estranha profecia conhecida como canto verdadeiro faz-se ouvir sob a forma de um enigma, que depois de pintar uma tempestade de todo o tamanho deixa a solução para a bonança:
“Resta uma esperança para nós, mortais,
Para a morte de um imortal ser expiada:
Vencer a luta pela última dádiva do Primeiro Cavaleiro,
Com o último suspiro da Raiha moldada”.
Para além da missão de salvamento da Ilha que começa a ser destruída por catástrofes elementais, este segundo volume leva-nos a conhecer a Sociedade Peregrina, “o grupo mais fixe do Ninho da Águia”, que apenas aceita – e por convite – os cavaleiros mais rápidos. Quanto a Skandar, descobre que talvez possa ter dotes de Remendeiro, capaz de vincular unicórnios selvagens aos cavaleiros que lhes estavam destinados. Quanto a Bobby, será atingida pelo seu próprio poder: o das sandes de emergência.
Um livro que aquece do meio para o fim e que, a certa altura, nos brinda com uma lição de vida: “…acho que a verdade é que ninguém no mundo é comum. É como uma arma do espírito. Podes imaginar o que é ser comum, mas isso não existe realmente. Não de verdade. Por isso, acho melhor tentarmos ser o mais extraordinários possível”. Nada mau, mesmo.
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