“O Luís não ria. Nunca ria. Nem um sorriso. Fora isso, era um miúdo como os outros. Brincava. Tinha família. Ia à escola. “
Pode parecer estranho mas é verdade. Luís era um miúdo saudável, que gostava de saltar, correr, jogar à bola e de muitas outras brincadeiras. Também gostava de ver filmes e de ler, mas nunca ria. Os pais, preocupados, levaram-no ao médico, mas nenhuma doença foi diagnosticada. Tudo tentaram para que se ouvisse uma boa gargalhada, por isso mostraram-lhe as cenas mais cómicas que conheciam. Faziam palhaçadas, mas… tudo em vão: o Luís nunca ria. Nem uma só vez. Seria tristeza? Melancolia? Infelicidade? Ninguém sabia, e o Luís continuava sem rir.
“Um dia, o Luís conheceu o Filipe”. Ao contrário de Luís, Filipe ria. Estava sempre a rir. Parecia improvável esta amizade, mas Luís e Filipe tornaram-se inseparáveis. Filipe, o Grande Epilif, queria ser mágico. Esforçava-se, mas o sucesso não era muito: da cartola nunca saíam coelhos, nunca nada acontecia como o esperado. Luís observava todos os truques, atentamente, sem esboçar um sorriso. “Luís gostava de falar sobre o universo, as viagens espaciais, o Big Bang, os buracos negros, os cometas, o espaço-tempo”. O Filipe ouvia-o, distraído, e às vezes fazia perguntas disparatadas.
A cumplicidade crescia entre os rapazes. A curiosidade unia-os. Um dia, a magia aconteceu e a amizade entre os jovens ficou mais forte do que nunca. “Síul, Epilif e o Grande Zigomático” (Bertrand Editora, 2020) é um texto bem-humorado, com frases curtas e incisivas na mensagem. Um belíssimo texto sobre a magia da amizade, escrito por Nuno Artur Silva, com ilustrações em página dupla de Pierre Pratt, que dão grande fulgor ao texto. Texto e ilustração em plena harmonia e complementaridade, com as guardas do livro a remeterem os jovens leitores para o universo, tema de interesse e de longas conversas entre estes dois amigos.
Nuno Artur Silva nasceu em Lisboa. É autor e produtor de livros, peças de teatro, eventos, séries e programas de televisão, sobretudo nas áreas da comédia e da poesia. Foi fundador, editor e diretor das Produções Fictícias – agência criativa -, do jornal O Inimigo Público e do Canal Q, canal cabo de entretenimento. Recentemente foi administrador da RTP, com o pelouro dos Conteúdos. Actualmente é secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media.
Pierre Pratt estudou design gráfico em Montreal. Começou por ser autor de banda desenhada, nos anos 80, dedicando-se depois à ilustração. Assina já cerca de 50 álbuns ilustrados para crianças. Premiado internacionalmente, recebeu em 2008 o prestigiado Hans Christian Andersen Award.
Sem Comentários