Foi uma das grandes edições de 2020 no universo da banda desenhada, numa não muito habitual co-edição entre duas das principais e concorrentes editoras nacionais deste género – neste caso, uma joint venture entre A Seita e a Arte de Autor. Com argumento de Philippe Thirault – a partir de uma história de Edward Ryan e Yang Xie -, desenho de Jorge Miguel e cores de Delf, “Shanghai Dream” (A Seita/Arte de Autor, 2020) é um drama ambientado na Segunda Guerra Mundial, que aborda um tema não muito conhecido: o êxodo de judeus para a China.
A edição reúne os dois álbuns originais, “Exode 1938” e “À la mémoire d`Illo”, publicados pela primeira vez na Les Humanoides Associés. Trata-se do 7º e 8º álbum desenhados pelo ilustrador português na editora francesa, com a qual colabora desde 2014 e que teve início com uma obra de humor e zombies, assinada por Jerry Frissen e intitulada “Z comme zombies”, a que se juntaram outros títulos como “Les Décastés d’Orion” ou “Seul survivant”.
Esta edição em capa dura inclui ainda um Caderno Gráfico comentado por Jorge Miguel, que já tinha colaborado com o argumentista Philippe Thirault em 2015, em “Arène des Balkans” – o segundo projeto editorial que assinou para a Les Humanoides Associés -, onde mostra ter ficado bastante agradado por poder desenhar uma época histórica que o fascina, tanto do ponto de vista histórico como visual, um período que mostra o glamour e o amor do cinema dos anos 1930-1950 e o casamento duradouro entre o oriente e o ocidente celebrado na cidade de Xangai, então uma espécie de Hollywood do Extremo-Oriente – onde nem era necessário um visto para entrar.
A história é protagonizada por Bernhard e Illo, um casal judeu alemão que sonha em prosseguir uma carreira no cinema: ele como realizador, ela como argumentista. Um sonho que se vê desfeito pela aproximação da Segunda Guerra Mundial e a entrada em cena do regime nazi, que leva à separação forçada entre ambos num processo de fuga de Berlim para o Oriente onde, entre as poucas coisas que conseguem levar, se encontra o guião para um filme no qual investiram muito das suas vidas.
Contado a dois tempos, “Shanghai Dream” é um drama feito de tragédia e perda, de perseguição e morte, mas também de amor ao próximo e pela arte, da possibilidade de recomeço, uma história de superação que mantém viva a memória e o melhor da humanidade.
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