É um daqueles comics que fogem ao universo clássico dos super-heróis, e que juntam com mestria um argumento e uma arte magistrais. A acção de Sete Para a Eternidade (ed. G. Floy) decorre nas terras de Zhal, lugar onde o Deus dos Sussurros instalou um estado de paranóia total, tendo ao seu serviço espiões e esbirros que nunca mais acabam.
O herói – ou talvez nem tanto – de serviço dá pelo nome de Adam Osidis, um cavaleiro moribundo nascido numa família caída em desgraça, tudo porque o pai se recusou a vergar diante do crescente poder de Garlis Sulm, “o homem que conheceu como o Deus dos Sussurros” – ou, como era chamado no seu universo familiar, o Rei da Lama. Recusando trocar a liberdade por uma aparente vida confortável e a ilusão de segurança, Zebediah Osidis foi desta para melhor, deixando a família com uma reputação que os torna indesejados por onde quer que passem, entregues a uma vida onde a sobrevivência diária é uma missão de monta.
Neste segundo volume – reúne os números #10-17 da série -, somos desde logo atirado para A Grande Cova, lugar pouco recomendado onde residem os Tecelões do Musgo. De acordo com Adam Osiris e o seu diário, não passa de um “traiçoeiro labirinto subterrâneo”. Garils, o companheiro de demanda de Adam, continua a mostrar sentido de humor: “Quem diria que uma alta alma do poço cheiraria a lula seca ao sol?”.
Mantendo a veia existencialista e algo deprimente do primeiro volume, Adam colocando a si próprio diversas questões existenciais pelo caminho: “Quantas vezes tem o mundo de castigar alguém pelos seus ideais até essa pessoa mudar? Haverá alguma verdade no nosso inimigo, ou seremos nós donos dela?”.
Um volume que sobe até Skod, a cidade das nuvens, um lugar absolutamente incrível, como se um pedaço do Japão se tivesse despegado e ficado sob o controlo de Jules Verne e do seu balão de ar quente. E que mostra que, quando chega a altura de fazer escolhas difíceis, é um teste dos diabos manter de pé princípios e valores. Dito de outra forma, como pôr de parte o “instinto bem humano de auto-preservação?”.
Há polvos e lulas voadores, dançarinos que parecem saídos do Boom Festival, um dossier com capas alternativas e páginas finalizadas antes de a cor entrar em cena, para além de um final onde são os mortos a fazer a festa. É melhor manterem a lanterna por perto.
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