Como já devem ter reparado, livros espirituais ou que apontem à auto-ajuda não são, propriamente, a praia do Deus Me Livro. Porém, quando se dá de caras com “Ser Humano” (Nascente, 2019), livro assinado por uma tal de Ruby Wax – a que se juntam um neurocientista e um monge -, a curiosidade fala mais alto.
Para quem não estiver a ver, Ruby Wax foi a guionista mor de Absolutely Fabulous, uma série mítica dos anos 1990 made in britain, que tinha como protagonistas Edina e Patsy, duas mulheres de meia-idade muito dadas ao álcool e ainda mais às drogas.
Nascida nos Estados Unidos, Ruby reside no Reino Unido há mais de trinta anos, onde tem sido escritora, comediante, actriz e autora de documentários e programas televisivos. Estudou Psicologia na Universidade de Berkeley, na Califórinia, Psicoterapia e Aconselhamento no Regent’s College, em Lodres e, mais recentemente, Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness na Universidade de Oxford.
“Imaginei que o monge pudesse explicar como a nossa mente funciona e que o neurocientista pudesse descrever o que ocorre no cérebro“.
Para este “Ser Humano”, Ruby rodeou-se de uma dupla improvável – um neurocientista e um monge -, para nos servir com muito humor um livro sobre mentes, corpos, cérebro e, claro, mindfulness, a ser lido mesmo por quem prefere o iogurte ao ioga ou os mindgames do Mourinho a essa coisa do Mindfulness. Uma mistura de entretenimento e serviço educativo que vale cada minuto gasto com a sua leitura.
Ruby dividiu “Ser Humano” em doze capítulos: Evolução mostra-nos o ideal humano de ser o campeão – ou, pelo menos, o seu melhor amigo; Pensamentos serão aquilo que na realidade não somos; as Emoções são comparadas a uma piada sobre mulheres: “não se pode viver com elas, não se pode viver sem elas“; em Corpo, assinala-se a necessidade de o ligarmos ao cérebro – “pensamentos felizes, corpo feliz“; Compaixão é, afinal, a “cola” que faz isto valer a pena; em Relacionamentos destaca-se o eterno dilema feminino, o de escolher entre o brutamontes e o bom rapaz; quanto ao Sexo preferimos não adiantar aqui quaisquer spoilers; em relação aos filhos, aconselha-se não se abrir logo a caixa do Xanax, procurando antes aprender uma nova língua; as Dependências podem ser eliminadas mudando os pensamentos; já o Futuro passará por “olhar para dentro” e ter consciência de pensamentos e sentimentos.
Há também um capítulo dedicado aos exercícios de Mindfulness, “idênticos à utilização de halteres no ginásio“, e ao capítulo final sobre o muitas vezes difícil Perdão, “começando com nós próprios para chegar aos outros“.
Com histórias divertidas e misturando, que nem um Panoramix em pico criativo, a neurologia e a espiritualidade, Ruby Wax mostra-nos que não custa nada tentarmos ser mais humanos, abraçando a empatia e tratando de aproveitar melhor esta curta viagem.
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