Ascender, Descender, Gideon Falls, Family Tree, Roughneck. Cinco títulos que, em comum, partilham o nome do argumentista: Jeff Lemire. Lemire que é também responsável por outros romances gráficos ainda sem edição nacional – Essex County, Sweet Tooth e Underwater Welder -, contando ainda com uma colaboração com o músico Gord Downie no romance gráfico e no álbum The Secret Path, que acabou por se transformar num filme de animação em 2016. Escreve com regularidade para a Marvel e a DC, e já levou para casa prémios como o Eisner.
Claro que, nisto dos prémios e das grandes histórias, as boas companhias ajudam. Em Descender, a arte esteve a cargo de Dustin Nguyen; quanto a Gideon Falls, contou com a irreverência criativa e visual de Andrea Sorrentino. Agora, em “Senciente” (G. Floy, 2022), Jeff Lemire surge acompanhado por Gabriel Walta, também ele vencedor de um Eisner e responsável por títulos como The Vision, Occupy Avengers, Astonishing X-Men e Doctor Strange, que começou a sua carreira na ilustração infantil e na pintura – algo que salta à vista neste “Senciente”.
“Esta é a história da nossa mãe. Começou quando abandonámos o lar e fomos para o espaço”. Bem-vindos a bordo da U.S.S. Montgomery, numa altura em que o calendário terrestre assinala o ano de 2105. Um ataque separatista leva à morte de todos os adultos, deixando as crianças num estado parecido ao que William Golding imaginou no “Senhor das Moscas” – ou “Deus das Moscas, consoante a tradução a que deitarem a mão. Após este incidente, a nave irá entrar numa cintura de radiação, uma “zona negra” que faz com que seja impossível de comunicar com a terra ou a colónia. Uma nave que é comandada com pulso firme por Valarie – há aqui ecos do 2001 de Arthur C. Clarke/Stanley Kubrick -, que assumirá a missão de proteger as crianças de todas as ameaças. Mas será que o conseguirá fazer indo além daquilo que para ela foi programado?
Um livro que irá agradar aos fãs (actuais e futuros) de Lemire, e que aborda temas como a colonização, a inteligência artificial, o crescimento ou a forma como lidamos com a morte, resultando em qualquer coisa como um Alien – o 8º passageiro mas com humanos em vez de bichos. As ilustrações são pouco habituais no formato dos comics, com a pompa da aguarela e cores vivaças, talvez o resultado da ligação primeira de Gabriel Walta à pintura.
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