“(…) O carro passou-lhe à frente. A bagageira abriu-se. Um dos homens prendeu-lhe os braços de lado, levantou-a do chão e atirou-a com força para dentro da bagageira, deixando-a sem conseguir respirar. Despiram-lhe a capa, arrancaram-lhe a mala que trazia ao ombro, algemaram-lhe as mãos atrás das costas e os tornozelos deixando-a de lado na bagageira. Tiraram-lhe o capacete, cobriram-lhe a boca com fita adesiva, tornaram a enfiar-lhe o capacete e puxaram a viseira para baixo. Tudo o que ela conseguiu ver foram uns dentes brancos e selvagens num rosto com pelos eriçados, uns ombros poderosos e, por trás, o céu azul vazio, a porta da bagageira a encolhê-lo e, a seguir, a sufocante escuridão.“
Tudo começa com um rapto, bem perto do jardim Rizzo da Universidade de São Paulo, Brasil. A vítima é Sabrina Melo, filha do multimilionário político brasileiro Iago Melo. Charles Boxer é o herói, um especialista em raptos e resgastes vindo da Europa, a peça-chave para a libertação de Sabrina, a jovem universitária. Uma tarefa que não se afigura fácil, pois implica muita perícia e elegância no agir.
Os enquadramentos sociais e políticos do Brasil estão muito bem retratados, havendo referências veladas à acção política, à corrupção generalizada no país e a acontecimentos verídicos que vieram a público: “Quase todos os contratantes da companhia estatal de petróleo a Petrobras, faziam pagamentos aos diretores da empresa, e esse dinheiro ia parar aos membros do partido no poder e aos seus aliados no congresso – disse Melo. Estamos a aproximar-nos de algumas detenções de figuras prominentes, e num ano de eleições isso irá colocar pressão sobre a nossa presidente de esquerda, uma vez que ela era a presidente da Petrobras quando se faziam todos esses subornos”.
As redes de influências, o poder e a vingança marcam presença, num jogo perigoso onde nem sempre há lugar para os mais escrupulosos. Robert Wilson revela-se um mestre a conciliar todos os ingredientes de uma boa história, repleta de acção e tensão. Para quem gosta de livros com muita adrenalina e emoção, recomenda-se a leitura de “Sem Mentiras” (D. Quixote, 2019)
Robert Wilson nasceu em 1957. Doutorado pela Universidade de Oxford, trabalhou em expedição, publicidade e comércio, em África, e viveu na Grécia e na África Ocidental. Divide o seu tempo entre Inglaterra (Oxford) e Portugal, sendo proprietário de um monte no Alentejo. É autor de grandes romances de sucesso, como “Último Acto em Lisboa” – Crime Writers Association Gold Dagger para Melhor Romance Policial, em 1999, e International Deutsche Krimi Prize 2003 –, “O Cego de Sevilha” ou “As Mãos Desaparecidas” – vencedor do Prémio Gumshoe para Melhor Romance Policial Europeu em 2006.
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