A colecção Sarita Rebelde é inspirada na tradicional personagem da Anita, a menina que queria experimentar coisas novas. Lúcia Vicente, a autora, disse pretender criar um universo moderno, onde rapazes e raparigas possam experimentar coisas novas, desafiando muitas das convenções sociais.
A Sarita é uma menina muito curiosa e decidida, que adora experimentar coisas novas. Só não gosta nada que lhe digam o que as meninas podem ou não fazer. É determinada, atenta ao contexto social, às problemáticas e às preocupações comuns do século XXI – uma jovem de causas. “Sarita Rebelde quer ser Astronauta” e “Sarita Rebelde no Recreio” (Nuvem de Letras, 2019) são duas das suas rebeldias.
“Desde que a escola recomeçara que a Sarita esperava ansiosamente pelo dia das profissões”. Desde muito cedo que os jovens sonham em ter uma profissão. Sarita “já tinha querido ser muitas coisas: quando era pequena quis ser bailarina ou vendedora de gelados. Durante uns meses, numa Primavera em que nasceram muitos borreguitos perto da casa dos primos, sonhou ser pastora”, mas também quis ser vendedora de algodão-doce, médica, arqueóloga e cientista. Até que, um dia, a professora deu uma aula sobre o Universo. Fascinada com a imensidão e o muito por descobrir, começou a imaginar-se “num foguetão a viajar para planetas distantes e nebulosas brilhantes”. A curiosidade aumentou, a pesquisa tornou-se sistemática e as idas ao planetário começaram a ser regulares. Estava tomada a decisão: Sarita queria ser astronauta. Mas poderá uma rapariga realizar este sonho? Claro! Urge ultrapassar os estereótipos de género – afinal as meninas podem ter as mesmas profissões, os mesmos sonhos que os rapazes.
Os rapazes saltam, gritam divertidos enquanto jogam à bola, no recreio da escola, contrastando com a tristeza da Sarita, sentada “no degrau frio e cinzento”. Isto porque os rapazes riram quando lhes pediu para “entrar no jogo pela primeira vez”. Depois de um verão inteiro a jogar à bola com os primos, Sarita é um ponta-de-lança incrível, e os rapazes nem vão acreditar, continuavam a teimar que “as raparigas não sabem jogar futebol. Muito menos como ponta de lança”. Sarita decide que vai mesmo entrar no jogo, pois “não interessa nada se és rapaz ou rapariga, desde que gostes do que estás a fazer”, desde que sejas empenhada. E, de repente…Goooooolo! “Todos queriam tentar defender as bolas da esquerdina Sarita. Bola atrás de bola, a Sarita marcou todos os golos! Ninguém queria acreditar“.
É preciso acreditar, responder aos desafios, ser ousada e não ter medo de lutar pelos sonhos. O papel dos pais e educadores é essencial para que as atitudes sejam alteradas e se construa um futuro mais inclusivo e igualitário, tal como os pais de Sarita, sempre apoiantes e colaborativos nos projectos e conquistas da filha. Ninguém tem o direito de dizer quais os sonhos com que se tem direito a sonhar. A autora pretende, de forma bem definida e clara, inspirar os mais jovens, através das atitudes da rebelde Sarita, para o activismo e para a luta feminista, tão emergentes nos nossos dias.
As ilustrações de Cátia Vidinhas transportam-nos aos diferentes cenários das histórias, numa paleta de cores diversificada e um traço dinâmico que dá enfâse ao entusiasmo que Sarita coloca nos seus desafios. Ilustrações de página inteira, dupla, meia página, em articulação com texto ou em formato de vinheta, recordando-nos a banda desenhada.
Lúcia Vicente nasceu em Outubro de 1979, à beira da Ria Formosa, em Faro, numa família cheia de mulheres. Foi a primeira desse núcleo a concluir uma licenciatura. Cedo se questionou sobre o papel da mulher na sociedade e por que razão os livros de História nunca mencionavam mulheres. Em 1995 criou, juntamente com um grupo de amigos, o colectivo feminista MUPI (Mulheres Unidas Pela Igualdade), e dedicou-se ao activismo feminista em adolescente.
Cátia Vidinhas levou anos a desenhar nas nuvens e a colorir livros de pintar oferecidos pela avó. Mais tarde licenciou-se em Design Gráfico e fez uma pós graduação em Design de imagem. Como ilustradora, tem colaborado com vários escritores. Em 2015, viu o seu trabalho destacado pelo Prémio Nacional de Ilustração com o livro WonderPorto.
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