Após a edição de “Shangai Dream”, um drama ambientado na Segunda Guerra Mundial que abordou um tema não muito conhecido – o êxodo de judeus para a China -, a Arte de Autor e A Seita voltam a unir forças e a apostar na edição nacional de obras ilustradas por Jorge Miguel, publicadas no mercado francófono. “Sapiens Imperium” (Arte de Autor/A Seita, 2021), originalmente editado pela Les Humanoïdes Associés, conta com argumento do norte-americano Sam Timel, que tinha já publicado na editora francesa a série “Milan K.” – desenhada por Corentin (2009-2013) -, bem como co-escrito o argumento com Kurt Basiek para o terceiro volume da série “Redhand”, ilustrado pelo mexicano Bazal (2015).
“O Imperador Amarcord Thesol da dinastia Kerkau reina sobre mais de quinhentos e trinta milhares de milhões de seres inteligentes, entre os quais cento e vinte e três espécies não-humanas que o Imperium considera seus escravos.”
Estamos no ano 5757. Após muitos séculos, milhares de descobertas científicas cruciais e guerras interplanetárias, a humanidade conquistou o universo. E, indo ao encontro da concentração do poder na mão de poucos, uma franja da humanidade emergiu como dominadora: o Império Sapiens, à frente do qual se encontra o Extra-Regente Amarcord Thesol e a sua família.
Os Thesol conquistaram o trono do Império esmagando os seus rivais, os Khelek, numa guerra dominada pela utilização de Metalnautas, máquinas de combate nas quais os guerreiros humanos projectam a sua consciência, evitando ossos partidos, cicatrizes e, o mais importante, a derrota. Foi assim com o pai do actual imperador que, durante o seu longo reinado, instalou um clima de perseguição, vingança e censura – período que ficou, nos livros de História, conhecido como “a catástrofe”.
Os poucos sobreviventes da dinastia vencida foram deportados para Tazma, uma lua desabitada do planeta imperial Shodu Prima e, numa altura em que o poder será passado sob a forma de testemunho, esquecem as rivalidades e preparam-se para a invasão. Entre eles está a jovem Xinthia, que mantém a esperança em dias melhores. A ajuda, essa, poderá vir de onde menos se espera: do próprio coração do Império.
Para o final deste álbum – em edição integral -, refrescante na forma como transpõe uma história de ficção científica para o universo da banda desenhada, está guardada uma cronologia, com o ar de um manual de História, que começa com o Big Bang e avança para o que precedeu os acontecimentos decorridos no século 59.
Nascido em 1963, Jorge Miguel iniciou a sua carreira artística como ilustrador, tanto no campo editorial como na pintura. Na BD, a sua estreia deu-se com uma biografia de Camões, a que se seguiu “O Fado Ilustrado”. Trabalha, desde 2012, em exclusivo para o mercado francês, na reputada editora Humanoïdes Associés, em livros que abordam temáticas tão diversas como o terror – “Z comme Zombies” -, o thriller – “Seul Survivant” e “Arène des Balkans” -, a ficção cientifica – “Les Décastés d’Orion” e “Sapiens Imperium” – e o drama histórico – “Shanghai Dream”, publicado em 2020 pela Arte de Autor e A Seita.
O escritor americano Sam Timel teve a sua primeira experiência no mundo da BD europeia com a série “Milan K”, tendo também participado na série “Redhand: Twilight of the Gods” – e, agora, neste “Sapiens Imperium”, todos eles publicados pela Les Humanoides Associés. Sam Timel referiu que “a inspiração para Sapiens Imperium veio de um episódio algo sangrento e violento da história do Marrocos: em 1972, o Rei Hassan II escapou a um atentado organizado por um oficial muito próximo dele, o General Oufkir. Oufkir foi executado, mas a história não acabou ali: a sua mulher e os seus seis filhos, o mais jovem dos quais tinha apenas três anos, foram enfiados numa prisão da qual só saíram dezanove anos mais tarde. Foi a partir destes acontecimentos, de grande violência, que imaginei o destino dos ‘exilados de Tazma’”.
(imagens da edição francesa)
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