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Santa Família, A Seita, Crítica, Deus Me Livro, Eider Rodríguez, Julen Ribas
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“Santa Família” | Eider Rodríguez e Julen Ribas

Por Pedro Miguel Silva · Em 17/08/2022

É o início de uma parceria entre A Seita, cooperativa editorial portuguesa, e a editora espanhola Grafito Editorial. Da autoria de Eider Rodríguez e Julen Ribas, “Santa Família” (A Seita, 2021) havia sido publicada em basco pela Ikastolen Elkartea, tendo recebido o Prémio Euskadi de Literatura 2018 na categoria de Literatura infantil e juvenil.

A ideia que, inicialmente, parece estar no centro da narrativa desta curta história de 48 páginas, é a de que a família não se escolhe, podendo ser tanto uma dádiva dos deuses como uma maldição saída das profundezas do Inferno.

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Nora é a primogénita, filha que, obedecendo a regras e padrões exigidos pela instituição familiar, vai acumulando segredos na gaveta, preparando em surdina a sua própria revolução e jogada de emancipação. Sorkunde Garai Gaztelu, a mãe de Nora que guarda a sete chaves a sua data de nascimento, usa a roupa um tamanho abaixo, “pelo prazer íntimo que lhe proporciona a dor e a estreiteza”. Durante o dia trabalha num centro de dietética, onde dá lições de moral de donut na mão, e à noite dá catequese às crianças do bairro. Teodoro, o pai de Nora, foi um tipo muito ambicioso até deixar de o ser, conseguindo trabalho – e mulher – na casa do Senhor. O leitor vai assistindo, numa viagem pelo calendário, a um casamento ao qual pareceu faltar o oxigénio bem cedo – e que tentou ser compensado primeiro com uma mascote e, depois, com o nascimento de uma filha.

Santa Família, A Seita, Crítica, Deus Me Livro, Eider Rodríguez, Julen Ribas“Santa Família” diverte-se a abanar as fundações familiares, questionando ideias pré-concebidas, preconceitos e costumes sociais mas, também, lançando um olhar sobre os sonhos que ficam pelo caminho, a exigência da paternidade e o atribulado caminho da adolescência. Com muito espírito metafórico e uma capacidade imaginativa tremenda, mostra-nos que o ADN é tramado e que, como Douglas Coupland tão bem o escreveu, todas as famílias são psicóticas.

A ilustração usa e abusa do espírito caricatural, sempre na criação de um ultra-realismo, destacando-se o trabalho gráfico e a forma como é utilizada a cor em cada prancha.

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Pedro Miguel Silva

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