Ostentando o troféu conseguido na primeira edição do prémio de literatura Corsino Fortes, a editora Abysmo traz-nos José Luiz Tavares, poeta que nos chega da sempre próxima ilha de Cabo Verde.
Trata-se de uma obra dividida em duas partes, indissociáveis entre si, um conjunto de poemas que se espalham gradualmente em pouco mais de cem páginas, debitados sob a batuta de uma profunda melancolia e olhando pelo espelho retrovisor da vida.
A primeira parte do livro, “Terraços longínquos”, é fértil em introspecções a respeito da vida actual do narrador. As palavras são facilmente maleáveis pelo próprio e surgem, com frequência, metáforas com animais ou objectos que personificam acções que habitam no inconsciente no interior do poeta.
Na segunda parte, intitulada “Rua Antes do Céu”, os poemas descrevem uma viagem de regresso à génese assumida de José Luiz Tavares, onde somos remetidos exclusivamente para a recordação de uma vivência passada do poeta: um passado visto como água que não repete duas vezes o mesmo curso. Nesta fracção da obra lê-se um retorno a tempos de uma ingenuidade imberbe, próprios do fim de uma infância que se perdeu no vasto areal de uma praia africana.
“Rua Antes do Céu” (Abysmo, 2017) reúne um aglomerado de poemas que apelam à reflexão existencial, um assumir de identidade onde, a palavra, tem o poder de desolar e de adensar o sentimento de nostalgia numa memória, descrita de forma crua com o decorrer das páginas.
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