O que salta desde logo à vista em “Reckless” (G. Floy, 2022), livro que resulta da parceria entre Ed Brubaker e Sean Phillips – criadores de Criminal, Fatale, Kill Or Be Killed e Pulp -, são as cores vivas – (boa) culpa de Jacob Phillips -, com um amarelo que nos faz olhar à volta em busca dos óculos de sol, ou o traço grosso dos desenhos, que destaca ainda mais o lado cinemático deste primeiro número da série Reckless – um pouco como acontecia já com Criminal, de quem a G. Floy publicou vários volumes.
Ethan Reckless é aquele tipo a quem se liga quando temos um problema comichoso, usando um número mágico alternativo ao 112 para deixar uma mensagem de voz no gravador. Se a história for boa, “aparece um tipo qualquer e consegue resolver-nos esse problema”. Se não for, paciência.
A história arranca com um intenso duelo entre um machado e uma catana, interrompido por um flashback que nos faz recuar duas semanas no tempo. O ano é 1981, a cidade Los Angeles. Seis anos antes, Reckless havia aberto o seu negócio, onde parecia ir buscar inspiração ao Robin de Howard Pyle: “…descobri que não me importava de roubar vigaristas”.
A vida de Ethan, porém, tem muito mais sumo para espremer. Foi agente infiltrado do FBI, isto antes do rebentamento de uma bomba que lhe tirou muito de si, e que faz com que apenas se lembre das memórias mas não das sensações: “É difícil explicar, mas eu costumava ser… mais. Agora estou meio vazio”. A base de Ethan, que serve tanto de escritório secreto como de casa blindada, é um cinema abandonado, ainda funcional – ainda que Ethan se recusa a abri-lo ao público. Tudo parece correr bem até que uma fugitiva lhe lança um pedido de ajuda, um daqueles pedidos que tem mesmo tudo para correr mal.
Ed Brubaker e Sean Phillips servem-nos tudo aquilo a que temos direito: drogas, crime, homicídios, diálogos com fel, ruas ensolaradas e algumas boas reviravoltas, em mais um policial noir protagonizado por um tipo que faz lembrar o Robert Redford – se este tivesse envelhecido sem recurso a plásticas. Para o final está guardado um posfácio, assinado por Ed Brubaker, além de um anúncio para o próximo livro e várias páginas que mostram o processo artístico de Sean Phillips. Temos série.
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