Depois de erguer Cidades, de pedir Silêncio e de marcar Viagens como se não houvesse amanhã ou bicho malvado, o The Lisbon Studio chega ao quarto volume decidido a plantar “Raízes” (A Seita/G. Floy, 2020) – isto se, de modo a manter a sanidade, o melhor não for mesmo arrancá-las da terra.
Trata-se da quarta antologia da TLS Series onde, à semelhança de uma Granta, se propõe um tema diferente para cada edição, tratando de se apresentar alguma da melhor banda desenhada portuguesa que por cá se vai fazendo.
São sete os diferentes olhares sobre aquilo que cada um vê como as suas raízes: Quico Nogueira – “O Último Dia da Marmota” – traz-nos à memória um Bill Murray preso no tempo, trocando-nos depois as voltas num cenário de calamidade onde cobaias procuram raízes vivas num mundo sem vida vegetal
Filipe Andrade – “Solitude – lança um silencioso olhar sobre as raízes familiares, em belíssimas ilustrações de página inteira, que navegam entre o postal ilustrado e um esmerado storyboard apontado ao grande ecrã.
Marta Teives – com argumento de Pedro Sousa – revisita, em “Ferida, Entre Canaviais”, o juvenil bate-pé, enquanto em modo ET se decide ir conhecer a bruxa de que todos falam. Uma história de renascimento a partir de um antagonismo com um forte travo poético com um toque de Pop Art, Bárbara Lopes – em “One Way” – desenha uma história onde é o corpo a servir como relógio de areia, e em que as raízes estão plantadas em casa, sendo a rua e o mantra “mais um dia” a exigir uma magia renovada e a capacidade de transformação.
Nuno Saraiva desenha um auto-retrato dos episódios de infância que o conduziram ao desenho, que começa com o Senhor dos Bonecos conhecido por Vaso Granja e que apresenta ainda a Bíblia ilustrada por Gustave Doré, o queixoso Calimero ou o temível e entusiasmante Sandokan, que lutava “Sem Cuecas Nem Soutien”.
Ana Branco oferece-nos, “Em Nenhum Outro Lugar”, uma história pela individualidade, anti-raízes, numa procura do tubarão interior, feito de inquietude, irreverência e com os sentidos apurados.
A fechar temos Ricardo Cabral “Entre as Sombras e a Luz”, num estilo de desenho mais “sujo” e old school que convida a uma trip que desemboca num mantra para os tempos vindouros: “As raízes de tudo são profundas e misteriosas. Em breve compreenderás”.
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