Foi, no que à Banda Desenhada diz respeito, uma das edições de 2024 mais celebradas por aqui: “Quentin Por Tarantino” (Asa, 2024), livro escrito e realizado por Amazing Ameziane, inventa uma falsa autobiografia guiada, através de uma das filmografias essenciais da história do cinema. “Sim, se gostares de avozinhas duronas que dão cabo dos filhos da mãe, de racistas que levam a sua raça demasiado a sério e de música de bradar aos céus. Sem esquecer os melhores diálogos do universo, dos quais te lembrarás até ao fim dos tempos”, Quentin Tarantino é decididamente a tua praia. Alguém que faz da arte popular o caviar do cinema, não escondendo a pilhagem – outros chamam-lhe benchmarking – como um trampolim para alcançar o céu criativo.
Num edição de grande formato e visualmente apelativa, viajamos por uma filmografia onde só “Death Proof” terá ficado no plano da mediania – “um bom mau filme”, segundo Tarantino -, e que inclui preciosidades como “Pulp Fiction”, “Reservoir Dogs”, “Jackie Brown” ou o díptico “Kill Bill”. Uma viagem que assenta tanto no plano pessoal como em curiosidades sobre o processo criativo, sem esquecer os muitos episódios de bastidores que tornam ainda mais lendárias algumas das películas.
Somos apresentados a “Reservoir Dogs”, filme levado ao colo por Harvey Keitel, que Harvey Weinstein – um dos investidores – queria que tivesse uma cena a menos; pomos o prato a rodar e damos conta dos Black Sabbath terem sido uma inspiração para “Pulp Fiction”; conhecemos as parcerias, umas melhores do que outras, com o amigo e realizador Roberto Rodriguez; prestamos culto à deusa Pam Grier, protagonista de um então inesperado “Jackie Brown”, “o filme que esperaria que eu fizesse aos 45 anos”; vemos Uma Thurman a dar cartas em Kill Bill, onde surge “tão fixe como Bruce Lee”; conhecemos as suas influências, a sua versão de cinema, as cinco técnicas que o acompanham a cada filme, e até se brinca com o que, afinal, estaria dentro daquela mala que, quando aberta, iluminou o rosto de John Travolta. Se são fãs de Quentin Tarantino, esta falsa biografia desenhada é de leitura obrigatória.
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