Numa entrevista de Robin Hobb – autora da imperdível saga dedicada a Fitz Cavalaria – ao Deus Me Livro, corria então o ano de 2018, falámos sobre a possibilidade de imaginarmos a fantasia sem dragões, que parecem estar em toda a parte. A resposta de Hobb foi esta: “Há alguns grandes livros de fantasia onde não os há. Mas é uma criatura muito poderosa para se trazer para uma história: a ideia de a humanidade ter um adversário tão inteligente, tão arrogante e no topo da pirâmide alimentar. Tal como nós”. “Quarta Asa” (Planeta, 2023), livro de Rebecca Yarros que deu origem a uma nova série de fantasia, tem quase tantos dragões quanto os Aliens de James Cameron, mas a verdade é que mora aqui um dos melhores livros de fantasia com dragões de há muitos anos para cá. Claro que “Quarta Asa” oferece uma dose extra de romance – a tal romantasy que tomou conta da fantasia moderna – mas, apesar do mel com travo a rosmaninho, a viagem está ao nível do melhor divertimento em que poderão andar em qualquer feira.
“Um dragão sem o seu cavaleiro é uma tragédia. Um cavaleiro sem o seu dragão é um cadáver”. É este o artigo primeiro, parágrafo primeiro do Código dos Cavaleiros de Dragões, que serve de bíblia a todos os afortunados que consiga entrar no Quadrante dos Cavaleiros, que é como um selecto campeonato de F1 mas com asas.
Violet Sorrengail, de vinte anos, tinha tudo para ser um rato de biblioteca, entrando para o Quadrante dos Copistas e garantindo uma vida santa entre livros e História. Porém, os planos da general comandante – que, por acaso, também é sua mãe – são diferentes, obrigando-a a tentar a sorte junto dos dragões como a candidata em que ninguém aposta um cêntimo. Probabilidades que a própria confirma: “Eu sou demasiado baixa. Demasiado frágil. As curvas que tenho deveriam ser músculo e o meu corpo traiçoeiro torna-me embaraçosamente vulnerável”. Algo que não abona muito a seu favor, uma vez que os dragões tendem a transformar fragilidade em cinzas. Até chegar aos dragões, porém, o caminho é longo e minado. “As estatísticas dizem que cerca de um quarto de nós viverão até à graduação”. Isto descontando a travessia pelo Parapeito, que com o vento, a chuva e 200 metros de distância ao solo faz também grande mossa.
Estamos em Navarre, um reino de seis províncias onde o serviço militar é obrigatório, sendo a única certeza a de que, passando o exame de admissão, a juventude não acabará “como forragem para a infantaria na linha da frente”. O inimigo declarado é o reino de Poromil e os seus cavaleiros de grifos, que parecem ir conquistando terreno suficiente para colocar o poder instituído em risco. Em tempos foi tentada uma rebelião, travada pelo governo actual que, a partir de então, decidiu que todos os filhos dos chefes inimigos seriam obrigados a alistar-se, servindo este gesto obrigatório como (sobretudo) castigo e reparação – um cenário aparentado aos Jogos da Fome.
Xaden Riorson é o filho do Grande Traidor, líder dessa rebelião falhada, tendo conseguido tornar-se o líder mais poderoso e implacável do Quadrante dos Cavaleiros, com todas as razões deste mundo para fazer de Violet o seu brinquedo vingativo – até porque foi a mãe de Violet a selar o destino fúnebre do pai. Como aliado, Violet contará com Dain, amigo de infância e paixão – até agora – platónica, que promete fazer tudo para a proteger.
Para quem gosta de uma boa aventura com dragões poderosos e cavaleiros com egos maiores do que a vida, “Quarta Asa” é um verdadeiro festim. Há romance, intriga, política, humor e um final que deixará o leitor de boca aberta, pronto a acender a “Chama de Ferro” – livro já disponível nas livrarias.
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