Desde março de 2020 que a nossa vida mudou. Pandemia. Vírus. Coronavírus. SARS-CoV-2. Vacinas. Máscaras. Isolamento. Distanciamento. Medo. Confinamento. Teletrabalho. Escola Virtual. Escolas Fechadas. Zoom. Teams. Google Classroom. Digital. Nova normalidade. #EstudoEmCasa. Ensino remoto. Ensino à distância. Telescola. Palavras e expressões que entraram no léxico de todos nós.
A nossa vida mudou, assim como a vida das escolas também. Assistimos a mudanças rápidas. Adaptámo-nos? Sofremos em silêncio? O regresso às aulas presenciais significa que voltámos à normalidade? Como é que o digital altera o modo de ensinar e de aprender? Será que os dias estranhos da pandemia nos oferecem a oportunidade de mudar de atitude face ao ensino e à aprendizagem? Para que serve a escola? E como deverá ser a escola? Que escola queremos? Estas e outras perguntas surgiram durante a leitura do livro “Quando as Escolas Fecharam” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021) – com o sub-título Cadernos da Pandemia.
Trata-se de uma crónica, em forma de diário, sobre o encerramento das escolas como resposta “à ameaça de uma pandemia global bem real”. É um diário pessoal, comprometido com visão de quem é pai, docente e estudioso na área da História da Educação, que retrata a vida dos professores e alunos, das famílias e das escolas durante a pandemia. Ao longo de cerca de uma centena de páginas, o leitor acompanha a vivência de um casal de professores, a filha, aluna do décimo primeiro ano, e a gata da casa, subitamente também perturbada pela alteração do quotidiano. Confinámos. Fechámo-nos nas nossas casas e foi decretado o encerramento de uma série espaços públicos, inclusivamente as escolas. As escolas fecharam portas. Novas formas de leccionar e de manter o contacto com os alunos foram (re)inventadas. Dois meses depois a situação seria revertida, de modo parcial, para alunos do ensino secundário, com disciplinas sujeitas a exame nacional.
Paulo Guinote relata, de forma mais ou menos cronológica e factual, o que aconteceu durante o primeiro confinamento. As suas notas abordam o ambiente familiar, episódios vividos, convicções próprias, histórias domésticas, fragilidades, preocupações, assim como um olhar analítico, crítico e reflexivo sobre o sistema e a educação, pedagogia, didáctica, metodologias e aprendizagens mas, também, sobre algumas apostas políticas e os discursos serpenteados de alguns elementos da tutela, nem sempre compreensíveis quanto à eficiente e eficácia.
Afinal, o que aconteceu nestes dias tão estranhos? Como geriram as famílias esta situação? Que orientações recebem, por parte da tutela, os professores? Como reagem os alunos à ausência de rotinas? Como gerir as dificuldades de implementar um ensino remoto? Como monitorizar as aprendizagens? A comunicação entre a escola e os encarregados de educação é feita de forma eficaz e eficiente? Será o digital a ferramenta que permitirá ultrapassar obstáculos e encontrar a salvação?
O deslumbramento digital, o uso do telemóvel como ferramenta de aprendizagem na sala de aula (presencial ou virtual), as novas plataformas de recursos (muitas delas disponibilizadas pelas editoras) e de encontro, entre professores e alunos, conduzem-nos a questões pertinentes e necessárias a quem pensa a Educação no século XXI, nomeadamente: o absentismo, “o agravamento da (in)competência da escrita no que à ortografia diz respeito”, as fragilidades nas diferentes literacias, nomeadamente da numeracia, da leitura e escrita. Que consequências haverá de haver tantos dias sem ler e falar de livros? Como recuperar as aprendizagens que não foram concretizadas?
Concordando-se ou não com as ideias do autor, “Quando as Escolas Fecharam” apresenta um conjunto diversificado de temas relacionados com a vida escolar, em dias estranhos, sobre os quais urge pensar.
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