Lombadas coloridas, um casamento perfeito entre texto e ilustrações e uma dupla de catraios algo disfuncional que, por acaso ou nem por isso, vai subindo posições no ranking amador dos detectives de topo, ganhando reputação e estima numa escola onde nem sempre é fácil sobreviver. Poderia bem ser este o cartão-de-visita para Puto Detetive, uma das mais castiças séries apontadas ao público juvenil que, no meio de tanta oferta, terá passado ao lado de muito boa gente.
A liderar a dupla está Rory Branagan, um miúdo obcecado com o desaparecimento do pai, que saiu de casa – sem se despedir – quando este tinha apenas três anos. Talvez por isso Rory tenha decidido seguir os passos de Sherlock Holmes, tendo já descoberto, nas suas muitas investigações, que o pai andava metido em negócios algo obscuros. Uma descoberta que contou com a colaboração de Cassidy Callaghan, que com o passar do tempo se tornou a sua melhor amiga e cúmplice, e com quem formou a dupla Gata e Fatal.
Até chegarmos a estes “O Grande Golpe do Diamante” (Porto Editora, 2022) e “O Covil do Perigo” (Porto Editora, 2022), livros que encerram a série em 7 volumes, a dupla havia já lidado com envenadores, descoberto o paradeiro de cães roubados, passado as tormentas numa cantina pouco recomendável, resolvido o mistério de um assalto numa festa de angariação de fundos e andado numa bola da morte – um misto de poço da morte e montanha-russa. Uma série de casos bicudos que os foi aproximando do objectivo único que Rory impôs como prioritário: descobrir o paradeiro do seu pai e a razão de este se ter posto ao fresco.
“O Covil do Perigo” mostra-nos um Rory perdido em divagações filosóficas, descobrindo que, “às vezes, os sítios que temos de investigar podem estar…dentro da nossa cabeça. E nem sempre podemos fugir dos vilões, porque os vilões estão dentro da nossa cabeça”. Existencialismos à parte, por esta altura a dupla de detectives conseguiu a sua melhor pista, ainda que obrigada a vários exercícios de adivinhação: “Sabemos que está escondido no sítio onde foi mais feliz”.
Michael Mullighan, o barão do crime, continua presente, assim como personagens centrais da série, como o irmão cabeçudo de Rory ou Stephen Maysmith, o simpático inspector da polícia. O grande caso deste 6º volume passa pelo roubo de porquinhos-da-Índia e, para o desvendar, terão de responder a questões como esta: quem é o tipo com a máscara de urso? A haver um ensinamento a retirar desta investigação, será sem dúvida este: os caracóis são importantes.
“O Grande Golpe do Diamante”, sétimo e derradeiro capítulo de Puto Detetive, começa por oferecer, para quem decidir começar pelo fim, um resumo de toda a matéria dada, apontando o lugarejo de Ballycove como o provável esconderijo do pai de Rory, desaparecido há sete anos. Rory que, mantendo os níveis de treino no máximo, vai ensaiando frases de abertura: “– Eu como vilões ao pequeno-almoço e cuspo os olhos deles só pelo gozo”.
Perseguidos pela dupla de capangas Olhos de Gelo e Cabeça-Dura, Rory e Cassidy aproximam-se do grande final, numa aventura sem motor que oferece um twist de todo o tamanho, mostrando que este Puto Detetive é uma série entre as melhores, deixando a porta aberta caso Andrew Clover e Ralph Lazar decidam, a qualquer momento, reactivar a dupla Gata e Fatal.
As ilustrações de Lazar são um mimo, onde o preto surge como cor entusiasmante, bem ladeada pelo cinzento e o branco que, por vezes, parece querer tirar uma radiografia urbana. Os planos são variados, sempre com um ar cinéfilo, em desenhos que conferem um grande dinamismo a esta história com sentido de humor sobre um jovem em busca do seu caminho, lidando com as muitas agruras da vida. Se andam à procura de uma nova série para oferecerem à pequenada, Puto Detetive é bem capaz de ser a escolha ideal.
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