Concebida e escrita por Luc Ferry, a colecção A Sabedoria dos Mitos promete ao leitor de banda desenhada “epopeias espectaculares, deuses todo-poderosos, bestiário formidável, heróis extraordinários…”. Uma colecção que se debruça sobre a mitologia grega, fonte inesgotável de aventuras épicas e de lições de palmatória, a que não escapam algumas reguadas.
Uma colecção que mistura o lazer com o conhecimento, apresentando, para além de uma narrativa que respeita os textos fundadores originais, dossiers complementares, que analisam o significado filosófico e a herança cultural de cada mito.
Em “Prometeu e a Caixa de Pandora” (Gradiva, 2019), começamos com uma espécie de reunião de emergência no Olimpo, logo após o sinal da guerra dos Olimpianos contra os Titãs que terminou com a vitória dos primeiros, conduzidos pelo disciplinador Zeus. Entre os convivas, e depois da euforia dar lugar ao tédio, Posidon está impaciente em libertar os oceanos, enquanto Hades diz estar preparado para reinar sobre as entranhas da terra.
Zeus pede então a Prometeu que faça seres mortais, para que a história e a vida regressem ao cosmos. A coisa corre tão bem que o fogo e e outras artes oferecidas por Prometeu conduzem à evolução do homem e à sua supremacia sobre as outras espécies, levantando a fúria do rei dos deuses que sente que a Humanidade é, agora, uma ameaça à ordem do mundo.
Na hora do castigo, Zeus está longe de ser meiguinho: “Serás acorrentado no cimo do Cáucaso, onde a minha águia irá devorar-te o fígado todos os dias, durante toda a eternidade”. Mas a coisa não ficará por aqui. Pede, ainda, que seja construída uma armadilha para os homens: uma mulher, bela ao ponto de ser a própria volúpia, que faça os homens perder a cabeça. Convida ainda cada um dos deuses a conceder-lhe um dom. Ela é Pandora, a quem Zeus confere uma outra missão a Hermes além da da entrega da moça: uma caixa – que mais parece um vaso -, que quando aberta soltará sobre o mundo o medo, a doença e a guerra.
Cautela, caldos de galinha e sabedoria mitológica servida aos quadradinhos, naquele que é, de todos, o mito com maior longevidade na reflexão filosófica e ecológica contemporânea.
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