Para os poucos que ainda não sabem de quem se trata, Lucky Luke é o mais velho cowboy da BD ainda em actividade. O seu nascimento deu-se a 7 de Dezembro de 1946, no almanaque da Revista Spirou, com a história Arizona 1880. Criado por Morris (Maurice de Bévère no BI), contou com René Goscinny, um dos criadores de Astérix, como argumentista durante vinte anos.
Com a morte de Goscinny, em 1997, e de Morria em 2001, as rédeas foram entregues a Achdè e a escritores como Laurent Guerra, Daniel Pennac e Tonino Benacquista. Foi a editora Lucky Comics que, seguindo o exemplo da Dupuis com a série “Spirous de Autor” – voltamos a lançar o repto: alguém que publique isto em Portugal, por favor! -, deu carta-branca para se criar um Lucky Luke à imagem de cada um.
Depois de “Jolly Jumper Não Responde”, “Lucky Luke Muda de Sela” e “O Homem Que Matou Lucky Luke”, A Seita publica agora “Procura-se Lucky Luke” (A Seita, 2021). Um álbum que, tal como “O Homem Que Matou Lucky Luke”, é escrito e desenhado por Matthieu Bonhomme, que dá mais um show de bola servindo-se de um traço vigoroso e cores vivas que nos mostram o Oeste como nunca antes o tínhamos visto.
Lucky Luke, o nosso herói, tem a cabeça a prémio e a recompensa não é coisa pouca: 50000 dólares. Ainda assim, Luke não se esconde e salva três beldades das garras dos índios, ajudando ainda na condução de uma manada – a única coisa que resta a este trio de irmãs após a morte dos seus pais. “Não sou do tipo que abandona três jovens mulheres sozinhas”, afirma, recebendo a aprovação das irmãs, expressa de forma muito elogiosa: “É giro”, “Solteiro”, “Mas mau rapaz”. Decididas a fisgar Lucky Luke para si, as irmãs lançam uma competição onde há apenas uma regra: “No jogo do amor é cada uma por si e à primeira que o beijar”.
A proibição de fumar, que atingiu Lucky Luke como uma bala perdida, não é aplicável de todo aos vilões que habitam estas páginas, que aproveitam todas as oportunidades para gozarem com um cowboy em privação: “Dizem que o célebre Lucky Luke já não é um verdadeiro cowboy desde que deixou de fumar… que se passeia com uma florzinha no canto da boca, como uma gaja” – ou, como Luke diz em sua defesa, uma palha.
Na sua travessia, para além de enfrentar um assédio de todo o tamanho, Luke terá ainda de passar por Liberty, uma muito acolhedora cidade que recebe os visitantes desta forma simpática: “Estrangeiro. Aqui é livre. Livre para ser enforcado”.
Para o final fica guardado um caderno de extras, que inclui uma entrevista com o autor e desenhos incríveis a preto e branco, entre o esboço e a obra-prima, onde seguimos o desenvolvimento das ilustrações desde o primeiro esboço. Uma colecção fascinante, tanto para seguidores de longa data como para os jovens iniciantes ao universo deste cowboy que dispara sempre mais rápido do que a própria sombra.
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