É mais um espécime do Romantasy, género literário dos tempos recentes que decidiu misturar, no mesmo caldeirão, o Romance com a Fantasia. Assinado por Lauren Roberts, “Powerless” (Singular, 2024) é o livro primeiro de uma trilogia, que nos transporta para Loot Alley, “o coração dos bairros de lata, que alimenta o crime e o comércio por toda a cidade”. Uma cidade comandada, à distância e com algum conforto, pelo Rei Edric, que a vigia com os seus “imperiais brutos”, colocados na cidade por esta ter, dizem as fontes oficiais, subido os níveis de criminalidade.
Neste reino de Ilya, o mundo foi criado como resultado de uma Peste que trouxe a dor, a morte e a discriminação. “O reino foi isolado durante anos para evitar que a doença se espalhasse pelas cidades vizinhas, e só os mais fortes de Ilya sobreviveram à doença que alterou a própria estrutura dos humanos”. Um reino composto por duas facções: os Elites, criaturas excepcionais e dotadas de poderes, e os Vulgares, pessoaas sem qualquer poder ou habilidade, de quem se diz serem portadores da doença que a muito custo venceram, sendo por isso banidos do reino e afastados da sociedade.
Neste mundo a preto e branco, Paedyn Gray decidiu inventar uma terceira cor: tornou-se uma Vulgar que vai sobrevivendo fazendo-se passar por uma Elite, muito graças ao seu poder de observação e dedução, o que faz dela uma Psíquica, uma das mais raras habilidades concedidas aos Elites. Paedyn é, também, uma ladra exímia, partilhando os seus saques diários com Adena, uma prendada costureira, vivendo numa tenda de rua improvisada a que chama de palácio e lar.
À voz de Paedyn como narradora junta-se a de Kai, apontado como o futuro Executor – ou carrasco – do futuro rei, que todos dizem ser o seu irmão Kitt, treinado desde muito cedo para a arte da diplomacia e a estratégia militar.
Tal como em Jogos da Fome, existe uma celebração inventada para relembrar o poder de quem governa. Aqui são as Provas da Purga, criadas há mais de três décadas para, segundo a versão oficial que deixa de fora a morte de pessoas inocentes, “mostrar as habilidades sobrenaturais do povo e trazer honra ao único reino de Elite”. A cada cinco anos, jovens Elites são escolhidos para competir nestas provas, “tanto pela glória como por xelins suficientes para construir o seu próoprio castelo ennquanto tentam escapar ao trauma que as Provas lhes causaram”.
Por motivos altruistas, já depois de o seu caminho se ter cruzado com Kai com algumas faíscas à mistura, Paedyn Gray vê-se escolhida pelo povo de Ilya para fazer parte da sexta edição das Provas da Purga, onde irá enfrentar 8 dos mais temíveis Elites. Enquanto os Elites se divertem a jogar num prova especial, que pela primeira vez irá realizar-se também fora da arena, os rebeldes travam a sua luta pela transformação do reino, e Paedyn Gray poderá ter um papel decisivo a desempenhar – isto se sobreviver, claro.
Entre a inspiração e o roubo descarado a Jogos da Fome, que por sua vez já tinha feito o mesmo a Battle Royale – uma distopia escrita pelo japonês Koushun Takam -, Lauren Roberts inicia aqui uma trilogia com muito romance à mistura, que ganharia uns pontos valentes se doseasse com mais parcimónia os assuntos do coração – há matéria clássica para isso. A acção prossegue em “Reckless”, volume já disponível nas livrarias.
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