Portugal… cercado pelo mar e pelo país de “nuestros hermanos” conseguiu, graças à atitude intrépida de marinheiros que pouco tinham a perder, um lugar no mapa da história mundial, deixando a sua marca espalhada por vários continentes, assim como a língua de Camões.
Mas se há quem se consiga alimentar desse passado recheado de boas memórias, ou quem veja no recente “boom” turistíco um alicerce para o futuro, qual o espelho actual duma nação recentemente saída da bancarrota?
É essa visão do presente, não olvidando a conjugação de outros tempos, que Enrique Pinto-Coelho procura captar através da sua experiência pessoal, assim como pelos testemunhos vários de estrangeiros radicados em Portugal.
A capacidade do autor em atingir um relato credível advém da ambiguidade dele próprio ser uma espécie de migrante, dividido entre o país de origem (Espanha) e aquele onde experienciou etapas distintas de crescimento (Portugal). É precisamente dessa mescla que nasce o relato vivido e tangível, onde facilmente vamos reconhecendo o país mais ou menos tradicional – e por vezes pouco racional – onde a maior parte de nós (Portugueses) ainda vai arriscando (sobre)viver.
Pondo de parte os clichés e estereótipos mais comuns, é-nos oferecida uma visão que ultrapassa em muito o estilo da comum reportagem, que nos conduz com extrema facilidade entre o recôndito país interior e as cidades que procuram imitar outros pontos duma Europa cosmopolita, mas cuja comparação será sempre risível face ao contexto tão particular que é só nosso.
Se a profunda dicotomia interna de que Portugal é apanágio pode apaixonar o mais distraído leitor, sem dúvida que a elevação desse factor perante a observação externa só poderia traduzir-se numa impressão ainda mais sedutora, plenamente atingida neste “Portugal das Maravilhas” (Marcador, 2016).
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