«Fique o leitor ciente de que não gostamos da morte. Preferimos saber que os adolescentes se possuem que um prisioneiro se evade ou que os bancos estão a arder numa palavra: que a vida se manifesta.»
Escrito em 1982 por Yves Le Bonniec e Claude Guillon, “Suicídio Modo de Usar” – a que pertence a frase acima transcrita – não se assumia como uma incitação ao suicídio mas, só para prevenir, apresentava algumas formas de lá se chegar, fazendo do suicídio uma arma da miséria e da sua própria liquidação. Hannah Baker não terá certamente lido o livro desta dupla, mas nem por isso tratou de dar ao seu suicídio uma orquestração digna de uma grande ópera, deixando, como legado a um mundo por si circunscrito, sete cassetes de audio, gravadas de ambos os lados, onde apresenta de forma categórica as 13 razões – e as pessoas – que a levaram a pôr um fim precoce à vida.
Thriller existencial para a posteridade, onde como em Pulp Fiction são os mortos que dão cartas, “Por Treze Razões” (Editorial Presença, 2019 – reimpressão) é um livro brilhante, belo, triste e inesquecível, que aborda aquilo que parece atravessar todas as gerações e vai sendo aceite como parte do tecido escolar ou da adolescência: o bullying nas suas mais diversas formas.
Clay Jensen é um dos nomes referidos por Baker numa das cassetes, e o leitor acompanha-o noite fora durante o tempo em que, de forma voraz, vai ouvindo cassete atrás de cassete, tentando perceber de que forma o seu nome faz parte desta lista – ao mesmo tempo que fica a conhecer segredos e facetas menos abonatórias de pessoas que fazem parte do seu universo.
Mais do que actuar como moralista ou justiceiro, Jay Asher aponta à reflexão pública e privada de um problema que assola geração atrás de geração, e para o qual todos terão de dar o seu contributo para o eliminar. A morte de Hannah é, para lá da perda individual, o apontar do dedo a uma sociedade consumista, arrogante, violenta e pouco dada à diferença, que poderia bem comprar um Walkman e ouvir estas sete cassetes de trás para a frente. Press play, minha gente. Press play.
Jay Asher nasceu na Califórnia em 1975. dedicou-se a diversos trabalhos, de bibliotecário a vendedor, mas cedo se entregou à escrita. É co-autor, com Carolyn Mackler, do livro “Antes do Futuro” e autor deste “Por Treze Razões”, que tem estado entre os bestsellers do New York Times desde o seu lançamento em 2007. O livro venceu diversos prémios, tendo sido traduzido em mais de trinta países e vendido três milhões de exemplares só nos Estados Unidos. Recentemente a Netflix adaptou o livro a uma série de quatro temporadas.
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