Na escrita a pares, algo que o noir nórdico parece ter como fórmula de qualidade e sucesso, não faltam exemplos: os dinamarqueses Anders Rønnow e Jacob Weinreich, que assinam como A.J. Kazinski; o casal sueco Ahndoril, que optou pelo pseudónimo Lars Kepler; Roslund e Hellström, o dueto que não esconde os apelidos; e, também, Jorn Lier Horst e Thomas Enger, autores de “Ponto Zero” (D. Quixote, 2020), a sua primeira obra e, mais recentemente, de a “Cortina de Fumo” (D. Quixote, 2021), ambos editados pela D. Quixote e que fazem parte da série Blix & Ramm.
No entanto, a escrita do romance policial enquanto prática criativa conjunta não teve início no Norte da Europa. Existem antecedentes, alguns pesos-pesados do género policial, como Ellery Queen, hetereónimo criado por Frederic Dannay e o seu primo Manfred B. Lee, ou os franceses Boileau-Narcejac que, sem nunca se terem sentado juntos para escrever, o faziam por correspondência. Boileau fornecendo os enredos e as ideias principais, Narcejac decidindo a atmosfera e a caracterização. Juntos publicaram mais de 40 romances, entre os quais “Vertigo” e “Celle qui n’était plus”, adaptados ao cinema respectivamente por Alfred Hitchcock – Vertigo – e Henri-Georges Clouzot – Les Diaboliques.
A dupla Jorn Lier Horst/Thomas Enger fez a sua estreia com “Ponto Zero”, livro que deu origem à criação do par que protagoniza a série: Alexander Blix, um detective reconhecido, dedicado, solitário e invulgar; e Emma Ramm, uma jovem jornalista de um periódico online que, entre muita luta interior, mostra ter uma tenacidade e uma perspicácia incomuns. Blix e Ramm reencontram-se após uma experiência dramática comum num passado remoto, oferecendo duas abordagens diferentes de como chegar à verdade.
Em “Ponto Zero”, o mistério inicia-se com o desaparecimento de Sonja Nordstrom, uma famosa ex-atleta, em que a única pista consiste no número “um”, deixado a meio do ecrã da televisão da sua sala. Já em “Cortina de Fumo”, o desafio da dupla está associado à véspera e à celebração da passagem para um novo ano. Uma explosão no principal ponto de encontro de Oslo e uma ferida grave, mãe de uma criança desaparecida há dez anos, são o ponto de partida para este quebra-cabeças deixado nas mãos de Blix e Ramm.
Minimalistas nos tons, descrições e alimentando a trama com um ritmo crescente, numa aceleração que introduz temas como o sofrimento, a violência, a perda ou o trauma, Horst e Enger conseguem induzir uma leitura frenética, a que só faltará mesmo uma nota de humor.
Outros títulos destes autores lidos pelo Deus Me Livro:
Fechada para o Inverno | Jorn Lier Horst
O Homem das Cavernas | Jorn Lier Horst
Cães de Caça | Jorn Lier Horst
Dor Fantasma | Thomas Enger
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